É só porque havia em ti uma caixinha de silêncio. E eu a imaginava envelhecida, de um mofo que impõe respeito e mágica. Toda vez que eu a abria, escutava canção nenhuma e, dessa forma, dançava quieta em teus braços. Sei da ilusão dos instrumentos. Da solidão da voz. Da falta contida em tantas músicas. Mas tudo isso aquela caixinha supria. Ao abri-la, a quantidade de delicadeza impregnada em meus dedos entregava a preciosidade jamais pronunciada. Ao abri-la, nem meus olhos falavam. O silêncio guardado ali, sempre pronto a preencher nossos vazios. Como nos dias em que tocavas Chopin e todas as teclas querendo ser meu corpo.
Do livro Nervuras do silêncio, de Lindsey Rocha, lançado pela 7Letras na coleção Rocinante.
2 comentários:
Eu gosto dos trechos que você seleciona, com certo apreço, mas... sinto falta, sempre, das suas próprias palavras...
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