28 de fevereiro de 2006

I hid my heart in a nest of roses,
Out of the sun's way, hidden apart;
In a softer bed than the soft white snow's is,
Under the roses I hid my heart.
Why would it sleep not? Why should it start,
When never a leaf of rose-tree stirred?
What made sleep flutter his wings and part?
Only the song of a secret bird.


Deitei meu coração em um ninho de rosas,
Longe da luz do sol; num leito o pus então
De mais brilho e maciez que as montanhas nivosas;
Sob as rosas guardei, guardei meu coração.
Donde, pois, donde vem essa palpitação,
Se nem mesmo uma folha estremece no ar quieto?
Quem fez alar-se o sono e voar para a amplidão?
Apenas a canção de um pássaro secreto.


O trecho acima é do poema de Algernon Charles Swinburne (1837-1909), intitulado A ballad of dreamland, a tradução é de Anderson Braga Horta.

27 de fevereiro de 2006

- Leí los cuentos - dice, aspirando el humo.
- Ahá.
- Están muy bien escritos.
- Hm.
Mónica da otra pitada y me mira directamente a lo ojos.
- Pero la verdad es que no sé qué es lo que tienen de especial. Todos los años se publican miles de cuentos como esos. No me parecen para nada originales.

Martin Rejtman, trecho do conto "Literatura", do livro "Literatura y otros cuentos", Ed. Interzona, 2005.

25 de fevereiro de 2006

— Acho muito difícil um autor novo ter espaço num caderno de cultura sem que haja um fator externo, extra-literário, que o ponha no mapa. Pode ser um prêmio, ou um tema quente abordado no livro. Mas o fato é que aqui no Brasil é muito mais raro que um crítico diga que tal autor é realmente bom e a idéia seja encampada pelos cadernos. Lá fora isso é extremamente comum — afirma Luciana Villas-Boas, da Record. — O Amílcar Bettega Barbosa, por exemplo. Ninguém nos cadernos de cultura sabia quem ele era antes de ganhar o prêmio Portugal Telecom no fim do ano passado. Você duvida que o próximo livro dele vá ser olhado com mais atenção pela imprensa especializada agora?

Jornal "O Globo", Caderno "Prosa & verso", 25 de fevereiro de 2006.

18 de fevereiro de 2006

Hacía calor y había moscas. Las flores de las catalpas ensuciaban las baldosas del patio. los hombres con los periódicos, las mujeres con pantallas improvisadas o abanicos, todo el mundo se abanicaba o abanicaba las tortas y sándwiches. La desgraciada de Humberta, lo hacía con una flor, para llamar la atención. Qué aire puede dar, por mucho que se agite, una flor.

Silvina Ocampo (1903-1993), trecho do conto Las fotografías, do livro La Furia, de 1959. Ocampo foi mulher de Adolfo Bioy Casares e conviveu, juntamente com o marido, com Borges. É uma pena que sua literatura seja desconhecida no Brasil. Aliás, é uma pena que conheçamos tão pouco da literatura argentina e que nosso vizinho saiba tão pouco do que se passa em nossas letras.

16 de fevereiro de 2006

Passa Santo Agostinho da sua África à nossa Roma, e pergunta assim: Ubi sunt quos ambiebant civium potentatus? Ubi insuperabiles Imperatores? Ubi exercituum duces? Ubi satrapae et tyranni? Onde estão os Cônsules Romanos? Onde estão aqueles Imperadores e Capitães famosos que desde o Capitólio mandavam o mundo? Que se fez dos Césares e dos Pompeus, dos Mários e dos Silas? dos Cipiões e dos Emílios? Os Augustos, os Cláudios, os Tibérios, os Vespasianos, os Titos, os Trajanos, que é deles? Nunc omnia pulvis: tudo pó: Nunc omnia favillae: tudo cinza: Nunc in paucis versibus eorum memoria est: não resta de todos eles outra memória, mais que os poucos versos de suas sepulturas. Meu Agostinho, também esses versos que se liam então, já os não há: apagaram-se as letras, comeu o tempo as pedras: também as pedras morrem: Mors etiam saxis, nominibusque venit. Oh, que Memento este para Roma!

Padre Antônio Vieira, Sermão da Quarta-feira de Cinza, trecho retirado da edição "Sermões", Tomo 1, da Editora Hedra, 2003.

10 de fevereiro de 2006

Mon coeur est lourd et succombe à la nausée. Je dégueule sur mes pieds blancs, au pied de ce tombeau de marbre de Carrare qu'est mon corps dévêtu. (Jean Genet, Pompes Funèbres)

Traduzo assim:

Meu coração está pesado e sucumbe à náusea. Vomito sobre meus pés brancos, ao pé deste túmulo de mármore de Carrara que é meu corpo nu.

Há uma edição da Record, de 1968, Pompas Fúnebres, traduzida por Ronaldo Lima Lins, que está bastante falha. Não no que diz respeito à transposição em si, que está excelente, mas com relação a várias omissões de trechos do original. Algumas perfeitamente compreensíveis por causa da censura e outras de jeito nenhum... Desconheço se existe alguma tradução mais recente. De qualquer maneira, ao leitor de Genet, recomendo a leitura do original ou, caso não seja possível, a de uma outra tradução.

7 de fevereiro de 2006

Sabe-se que Cormac McCarthy teve uma vida pobre, tanto economicamente quanto literariamente. Não é de se estranhar que o escritor não considere Henry James e Marcel Proust literatura. Primeiro, ele está querendo aparecer (aparecer vende livro) e segundo ELE está sendo honesto. ELE não considera James e Proust literatura. Em suas palavras, "I don't understand them. To me, that´s not literature." Ao menos ele foi sóbrio ao afirmar "para mim". Cormac é no máximo um escritor mediano, em seus melhores momentos. Proust foi um gênio. Dá para levar a sério alguém que diz tamanhas asneiras?

6 de fevereiro de 2006

O livro A cidade devolvida foi um dos destaques da revista Bravo! de Fevereiro deste ano. Sobre ele, escreveram: Reunião de histórias cuja beleza está na diversidade de temas e na memória afetiva do autor, que é passada ao leitor em cenários intimistas, cuidadosamente trabalhados. (...) A teia lingüística criada pelo autor é a basa de sua literatura, mais voltada para a criação de uma linguagem própria, fortemente marcada por seu modo particular de narrar, do que para uma descrição objetiva do mundo.