tag:blogger.com,1999:blog-182272222024-03-13T19:27:10.318-07:00Cidade DevolvidaUso este blog para falar de obras que li e curti.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.comBlogger293125tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-3093647230269655932012-08-30T13:16:00.001-07:002012-08-30T13:16:24.104-07:00Um conto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/2cvenA19KZg?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-53968271242791483362012-07-13T15:41:00.002-07:002012-07-13T15:41:21.294-07:00Tudo o que tenho levo comigo, de Herta MüllerQuando um escritor leva o Nobel de Literatura, todo mundo fica desconfiado. Porque o prêmio tem forte conotação política. Então nos perguntamos: será que existe aí alguma qualidade literária? Certa vez Daniel Piza foi muito apressado ao criticar Herta Müller, baseando-se no único livro dela lançado no Brasil até então, "O compromisso", traduzido por Lya Luft. Escrevi a ele, argumentando que ele não podia ir tão longe tendo lido apenas um romance da romena. Ficou bravo, bateu o pé e ficou por isso mesmo.<br />
Antônio Cândido defende que uma tradução ruim não consegue matar uma boa obra. Não acredito nisso. Convenhamos que o trabalho da Luft em cima dos originais de Herta Müller quase chegou lá. Discuto há pouco com meu amigo Ronaldo Cagiano que, como escritores, temos a obrigação de conhecer profundamente uns 3 ou 4 idiomas e, superficialmente, outros 3 ou 4. Antes de ler qualquer tradução, e digo isso sem arrogância, dou uma folheada nos originais. Comparo. Se estiver tudo ok, prefiro ler em português. Então, sobre a transposição da Carola Saavedra, não há o que temer. Ela conhece bem a língua alemã e ainda consegue imprimir a sua assinatura, sem mascarar o estilo de Herta Müller. Alguns trechos ficaram confusos, quase ininteligíveis, mas anda que comprometa o conjunto.<br />
A ressalva fica por conta do título. Parece-me que a Cia das Letras optou pela tradução do título inglês, o que é uma pena. O original "Atemschaukel" virou "Tudo o que tenho levo comigo", retirado do primeiro parágrafo do livro:<br />
<br />
Alles, was ich habe, trage ich bei mir.<br />
<br />
Herta Müller é uma escritora maravilhosa e este livro é uma prova disso. Primeiro, o estilo: frases curtas, secas, sonoras. Capítulos curtos, quase pequenos contos, que entrelaçados viram um romance. Um texto lírico. Enxuto? Não, de jeito nenhum. Rejeito veementemente o adjetivo. Como uma obra pode ser enxuta se trata, em suas quase 300 páginas quase exclusivamente da fome?<br />
Li vários e vários livros que tratam do holocausto e, na minha ignorância, achei que esta obra de Herta Müller ia se ocupar deste mesmo assunto. Meu preconceito veio do fato de que considero complicada a tarefa de extrair algo de bom de um tema que já rendeu tantos e tantos parágrafos. Só que "Tudo o que tenho levo comigo" fala do pós-holocausto, da perseguição que Stálin empreendeu após o término da Segunda Guerra.<br />
Assim, Leo Auberg, um alemão de dezessete anos, homossexual, se vê, sem motivo aparente (mais tarde descobre que faz parte de uma minoria, por isso foi punido), obrigado a passar vários anos como escravo em um campo de trabalhos forçados. Mas não há uma narrativa convencional, a história nos chega em devaneios, em momentos de extrema privação. Praticamente não existem diálogos, porque num lugar como o que Auberg cai, a intimidade pode significar fraqueza e fraqueza é sentença de morte.<br />
No livro, o termo Atemschaukel aparece algumas vezes e é traduzido como "o balanço da respiração", o que não deixa de ser uma metáfora para esse movimento praticamente involuntário que nosso peito faz quando sugamos o ar da sobrevivência. É a metáfora perfeita para a luta de um ser humano em uma condição de miséria, porque é aí, é nesta agitação do peito que alguém se lembra de sua humanidade.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid1TjfcYnwS2KliEmtv-ppZbCA50AcllkuF1pkeZpr5pi3KnN62Wj9xKf79-9xRhl5as5RjoKVzwvgxx9tN5tTOCQhvj7I7bt4eO7QeSX1LcoqySBUMpNOT5bzCsu8jVmBIvJ8/s1600/muller.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid1TjfcYnwS2KliEmtv-ppZbCA50AcllkuF1pkeZpr5pi3KnN62Wj9xKf79-9xRhl5as5RjoKVzwvgxx9tN5tTOCQhvj7I7bt4eO7QeSX1LcoqySBUMpNOT5bzCsu8jVmBIvJ8/s1600/muller.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS6wMGBdCDBAyC9uCUXTsoHfpNSVjDIUlpp2KWqXm-mqwPi_7B0DCELonXrX05vMd-_X0vzT7xmZW4H12ly-v2draHxwMnp6aoyEppkj2yZ3B3nwaS1sc0hOpEEGjHunzyrOaP/s1600/muller2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS6wMGBdCDBAyC9uCUXTsoHfpNSVjDIUlpp2KWqXm-mqwPi_7B0DCELonXrX05vMd-_X0vzT7xmZW4H12ly-v2draHxwMnp6aoyEppkj2yZ3B3nwaS1sc0hOpEEGjHunzyrOaP/s320/muller2.jpg" width="212" /></a></div>
<br />whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-57658150747076735262012-06-01T05:51:00.002-07:002012-06-01T05:51:32.260-07:00Algumas palavras sobre o Concurso de Contos Luiz Vilela<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Talvez
os ituiutabanos não tenham uma ideia muito clara da importância do Concurso Luiz
Vilela, que, durante mais de vinte anos, premiou contistas do país inteiro. O
certame, que dava ao vencedor uma boa quantia em dinheiro, que recebia, a cada
edição, em torno de mil trabalhos concorrendo ao prêmio, levava o nome de minha
cidade natal aos cantos mais recônditos do Brasil. Digo isso com conhecimento
de causa, pois, por onde quer que eu vá, quando respondo sobre Ituiutaba, logo
já a conectam ao concurso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os
livros editados com os dez melhores trabalhos circulam por todos os cantos.
Recebo com frequência e-mails de gente pedindo exemplares, interessados em ler
os contos selecionados. Quando relacionam o prêmio à cidade, logo pensam que
aqui há políticos que valorizam a cultura, que reconhecem o valor da
literatura. E é fato que deve ser louvado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estamos
cansados de saber que uma parcela significativa da população saiu da faixa de
pobreza, alcançando o status de consumidora. Os da classe C migraram para a B,
os da B para a A, fazendo com que nosso povo tivesse acesso aos bens de
consumo, embora continue sem acesso aos bens culturais, seja por desinteresse,
seja por falta de dinheiro mesmo. Ações que saiam à captura de leitores só
podem ser louvadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Posso
garantir a qualquer um que venha me questionar, que os mil exemplares editados
com os dez contos vencedores alcançam uma enormidade de leitores. Um livro em
uma biblioteca, um livro lançado ao mundo, é sempre uma surpresa. Como vencedor
da edição de 2007 do Prêmio Luiz Vilela, como autor selecionado em quatro
outras oportunidades, posso afirmar que a antologia fez muita diferença em
minha carreira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Graças
ao concurso, meu nome chegou aos ouvidos de antologistas e de pesquisadores que
se interessaram pela minha escrita. Fui convidado a participar de importantes
obras, caso da Geração zero zero, que mapeou os melhores escritores
contemporâneos da década passada. Meu nome, de boca em boca, alcançou uma
pesquisadora norte-americana, que passou a estudar meus dois últimos livros com
seus alunos de pós-graduação. De boca em boca, minha prosa encontrou uma
editora alemã, que se interessou pelo que faço e que traduzirá um texto meu
para a Feira de Frankfurt, em 2013.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Poderia
ficar aqui defendendo o concurso durante horas, mas acho que já dei uma boa
amostra do meu pensamento. Por motivos que não pretendo abordar neste texto, o
prêmio deixa de levar o nome do escritor ituiutabano mais conhecido no Brasil e
no mundo. Não tenho dúvida nenhuma que grande parte do sucesso do Concurso Luiz
Vilela se deveu ao fato de que o próprio Vilela gerenciava todos os passos do
certame. Parece-me que ficou decidido que continuará a existir um prêmio
literário em Ituiutaba, só que com outro nome. Não sei se será a mesma coisa, mas
espero que sim. <o:p></o:p></div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-51260476822343196932012-04-11T16:21:00.000-07:002012-04-18T07:45:47.647-07:00Anatomia, de Daniela LimaQuando eu leio um livro realmente bom, eu penso na utilidade da minha literatura. Da <i>minha</i>, bem entendido. Após a leitura, um pouco de desânimo, uma pitada de prostração e eu descambo para a depressão, algumas vezes. Então eu recebo este "Anatomia", de Daniela Lima. Um livro de estreia e isso significa muita coisa, para o bem e para o mal e eu não vou repetir aqui. O fato é que a experiência nos alerta e esperamos uma obra insegura, uma prosa vacilante, alguns clichês e outros escorregões. Mas não é isso que acontece, de jeito nenhum. E posso acrescentar que o caminho que Daniela escolheu é o pior, porque parece que as pessoas não precisam mais desse tipo de arte. A literatura precisa, mas as pessoas não.<br />
É uma obra fragmentada, tanto no espaço quanto no tempo, e só isso bastaria para ganhar a minha atenção, porque gosto de experimentos. Só que ela vai ainda mais longe, pois nos entrega uma história bonita, misteriosa, ambígua, embrulhada em um estilo lírico, suave. Não foi à toa que citei a depressão ali atrás. Logo no início do romance (?), acompanhamos o "sim" de Laetitia, em seu casamento. Sabemos, por meio da narrativa, que ela chegou até ali menos por impulso do que por preguiça de ponderar. Vamos nos casar? Sim, por que não? E assim, como se fosse um golpe de autopiedade, alimenta a sua depressão com decisões apressadas.<br />
Notamos em cada palavra, em cada linha, o exorcismo da autora, como alguém que tenta se livrar da própria tristeza encarando-a, enfrentando-a. Escrever é sempre esse ato autobiográfico, disso não tenho dúvida nenhuma, mesmo que tentem me convencer do contrário. O que mais há na trama? Há muito de humano, de dejetos humanos, sangue, lágrima, suor, como se a essência do homem pudesse ser traduzida por aquilo que se joga fora, pelo descartável. E, lógico, sabemos que tudo é descartável, por mais que nos apeguemos a qualquer esperança.<br />
Há também o ambiente asséptico, tudo é muito branco, como se as pessoas fossem essa aparência, que também pode machucar. Os relacionamentos são experiências conduzidas por indivíduos que desejam descobrir o limite do outro ou o seu próprio e isso, lógico, passa a ser um jogo de vale-tudo.<br />
E é humilhando o próximo (e quanto mais próximo, melhor) que tentaremos nos livrar de qualquer coisa que pode representar expectativa e é um excelente alimento para a melancolia. Alguns capítulos são curtíssimos, uma linha. Isso é bom, nos deixa respirar um pouquinho, embora eu ache que tanto faz, quando estou lendo eu quero mesmo é perder o fôlego. Vi por aí que o foco do romance é o erotismo, mas acho bobagem. Não achei isso em passagem nenhuma. Para mim é uma história de amor. O maior amor que já existiu e que sempre existirá, que é aquele que alguém pode ter por ele mesmo. É a história do amor que Laetitia sente por ela própria.<br />
<br />
<i>Serviço: o livro foi editado pela <a href="http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=740&idProduto=764">Multifoco</a> e pode ser encontrado no site da editora e nas boas livrarias a 32 reais.</i><br />
<br />
<i>Trecho:</i><br />
<i><br /></i><br />
<i>Se eu soubesse fazer da palavra instrumento, ainda que rudimentar; se soubesse agir como alguém que não tem nada, mataria você. Seria um único grito. E: o fruto arrancado: a memória perdida amadurecendo sobre a mesa da sala. Finalmente, eu me afogaria na certeza de que nenhuma semente desta memória vingaria.</i><br />
<i><br /></i><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28SMYP7T7i_Ki4bmnxnFW2TsGbtQ0wFYC6DzzslEAfXr71nfw7yfZpcLcnsh8cz3pKCaGkTpvzRcPvbAMZTEfcQwNTsxfnXPPJb3Teq85tKwtZD15wOxBRHn9pSRid_D0k4dG/s1600/anatomia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28SMYP7T7i_Ki4bmnxnFW2TsGbtQ0wFYC6DzzslEAfXr71nfw7yfZpcLcnsh8cz3pKCaGkTpvzRcPvbAMZTEfcQwNTsxfnXPPJb3Teq85tKwtZD15wOxBRHn9pSRid_D0k4dG/s320/anatomia.jpg" width="224" /></a></div>
<i><br /></i><br />
<br />
<br />whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-59505814102315740512012-03-24T12:56:00.000-07:002012-03-24T13:06:04.330-07:00O professor de piano, Rinaldo de FernandesHá escritores que gostam de nocautear. Mal começam uma luta e já tentam acertar um gancho ou um direto, para derrubar de vez o oponente e terminar com a história. É arriscado, porque o lutador se expõe e um pequeno erro pode levá-lo a uma derrota. Outros, mais pacientes, encaixam um jab de vez em quando, minando aos poucos a resistência do adversário. Vai vencendo devagar, a cada golpe e eventualmente pode levar o outro ao chão, o que não é tão importante. O que lhe interessa é a vitória e ele a constrói com calma, meticulosamente.<br />
Rinaldo de Fernandes é o segundo tipo de boxeador. Pelo menos é a conclusão que tiro ao ler seu livro de contos "O professor de piano", lançado pela 7letras, em 2010. Não estou tentando defender que um estilo é melhor do que o outro, são apenas dois jeitos diferentes de contar uma história, ambos com suas características. Rinaldo vai tateando, testando seu leitor, entregando aos poucos a trama, deixando lacunas, dúvidas, vai encaixando um gancho aqui, outro ali.<br />
Suas narrativas curtas seguem o conceito tradicional de conto: o roteiro se prende a curtos intervalos de tempo, as personagens são poucas, as histórias narradas em dez, doze páginas e todas têm início, meio e fim. O que, na verdade, não importa muito, pois o que vale é a poesia presente, o domínio da arte e a convicção de que a obra não é descartável. Rinaldo é, como o apresenta Regina Zilberman, um mestre do conto.<br />
Apesar de o belo e instigante "Beleza" abrir o volume, é em "O professor de piano" que podemos começar a perceber a maestria a que Regina se refere. Em poucos parágrafos ficamos sabendo que há um plano e que só teremos mais dados à medida que formos nos embrenhando pelas páginas. É assim que Rinaldo nos hipnotiza e é assim que somos pegos de surpresa. Uma surpresa atrás da outra.<br />
Não o espanto do nocaute, mas a paciência sobre a qual comentei no início deste texto. Depois, há outro conto, "Ilhado", uma construção perfeita. Nos colocam a par de um casal que frequenta um bar. Ele, habitante de uma ilha, ela sua namorada. E há um freguês em uma mesa próxima, que pretende ser apenas um voyeur. Não deseja se intrometer em nada. Mas é aí que o conceito de observador isento entra em ação. Ninguém é independente, há em tudo uma cumplicidade tácita, entretecida de olhares, gestos, de modo que já desconfiamos que os três se envolverão em alguma intriga.<br />
Há o conto "Oferta", em que uma garota deseja intensamente possuir uma mochila, "Dois buracos para meus olhos, uma ficção venenosa, em que tudo parece ser suspeita, os fatos não são entregues ao leitor e o que é fato pode estar corrompido pelo álcool ou por alguma alucinação. Ainda "O caçador", em que um sujeito invade uma casa e resolve lá morar, dividindo-a com o dono, sem que ele saiba. É um jogo sutil de desencontros.<br />
São onze contos que desafiam o leitor, que nos instigam a seguir para o parágrafo seguinte e ver o que acontece. E o que acontece é que saímos da leitura das quase cem páginas de sustos, de assombros, convictos de que a literatura brasileira contemporânea vai cada vez melhor, mas parece que o grande público ainda não se deu conta disso.<br />
<br />
<i>Trecho</i><br />
<i><br /></i><br />
<i>Na faculdade, eu havia espalhado, meio idiota, que o silvo do soneto se tratava do pós-moderno. Charme, pra dizer que estava sacando o zunzunzum todo. Tentei te beijar, quando sentamos no barzinho. Você não quis. Falou que é isso. Vamos ser só amigos. Caralho! A pílula da tua indiferença direto na minha goela. Sou como um pneu - adoro o liso. Tudo que é atrito grita-me fundo. Na orelha. No peito. No cu. Que aperta na hora, e bem.</i><br />
<i><br /></i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj086-4jO2Ry9XyYXBsfD9BBFLwN6-yydnYeTyQmckubJhwgpd7vUZpwPNHYRJs5ryJpP4zO1wvJDjHFRSPv-TKEdy5I7CRQRg2huEVOfULwwmI_y7oiwcptFDwgkhfQGsRc2o8/s1600/professordepiano.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj086-4jO2Ry9XyYXBsfD9BBFLwN6-yydnYeTyQmckubJhwgpd7vUZpwPNHYRJs5ryJpP4zO1wvJDjHFRSPv-TKEdy5I7CRQRg2huEVOfULwwmI_y7oiwcptFDwgkhfQGsRc2o8/s400/professordepiano.jpg" width="258" /></a></div>
<br />whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-20779803797493367122012-02-02T14:04:00.000-08:002012-02-02T14:05:04.373-08:00Então você quer ser escritor?, de Miguel Sanches Neto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTlH7qYZsMBKAjqIhYMHp1ivwWO4whv_q14am35SpIJmaphrGBPZz6TEnfLzPTltydGxf8KzrjBmOrSEJ5iFswXwqFWg-aARu2hDOf1ZCK-txjG50Qtcrm8eNwWhkKod7J_oXm/s1600/miguelsanches.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTlH7qYZsMBKAjqIhYMHp1ivwWO4whv_q14am35SpIJmaphrGBPZz6TEnfLzPTltydGxf8KzrjBmOrSEJ5iFswXwqFWg-aARu2hDOf1ZCK-txjG50Qtcrm8eNwWhkKod7J_oXm/s400/miguelsanches.png" width="246" /></a></div>
<br />
<br />
Miguel Sanches Neto não tem mais nada a provar a ninguém, já tem o seu lugar garantido no panteão da literatura brasileira. Meu pequeno comentário a respeito destes seus contos, portanto, nada pretende acrescentar à vasta bibliografia que cuida de analisar a obra do escritor paranaense. Se este texto conseguir incentivar um ou outro a ler sua obra, me darei por satisfeito.<br />
Os contos (dezesseis, distribuídos por duzentas e poucas páginas, publicados em 2011) tratam, de um modo bem geral, da infelicidade humana, do baixo valor de mercado do orgulho e da vaidade. São narrativas construídas de acordo com o conceito clássico de conto: início, meio e fim (às vezes surpreendente). Com isso, quero dizer que Miguel Sanches Neto quer contar uma história, mas não tem uma ânsia de contar uma história, ele vai devagar, como diríamos em Minas Gerais, "comendo pelas beiradas". Ele vai tateando, rondando o leitor, como quem não quer nada e, de repente, dá o bote. Para tanto, muitas vezes divide os contos em partes, dá uma volta no passado, prepara o chão.<br />
O título do conto de abertura dá o tom da obra: "Sangue". O leitor que se prepare para muito sangue, mas não aquele dos faroestes, dos filmes atuais de Hollywood, mas o sangue <i>nouvelle vague</i>, o sangue contido, que vai tingindo aos poucos um cenário outrora puro, branco. Há também carne por todo lado. A mulher que não suporta mais o cheiro de sangue e de carne (esse trauma se repetirá em outras partes do livro), as árvores submersas que um artista de uma pequena cidade utiliza para construir suas peças indecentes, a faca que quase é usada para matar uma criança, as memórias de um soldado que romantizava a guerra, o marginal que sonhava em terminar, com o pai, uma casa na árvore e outras histórias que deixam em nós uma impressão de desassossego, de vazio.<br />
Mas eu queria falar especialmente do conto "Vestindo meu avô". Poucas vezes li um texto tão bem concebido, tão bem escrito. Confesso que saí da leitura um pouco deprimido, pensativo. Um garoto que respeitava o avô porque sempre o via com os sapatos bem engraxados. Um avô fugidio e seu cavalo cansado de longas viagens e de repente o menino que vai para a cidade grande, se esquecendo da terra natal, até o dia em que o pai lhe telefona, pedindo que venha ver o avô pela última vez. Aí, para mim, começa a genialidade do conto. O sentimento de proximidade que pai e filho tinham abandonado, é recuperado quando ambos têm de lavar o corpo sem vida do velho, de um velho degradado, que nem usada mais sapatos, mas chinelos de dedo. É uma morte pesada, crua, indigesta, como deveria ser.<br />
"Então você quer ser escritor?" é o conto que fecha o volume e fala de um modo peculiar que a obra é coisa totalmente diferente de autor. Neste texto, Miguel Sanches Neto esmiúça as armadilhas das oficinas literárias, em que os escritores que as ministram sabem da fragilidade do talento de seus pupilos. Mostra um professor de idade, disposto a elogiar seus alunos para garantir a mensalidade e às vezes uma ou outra aventura sexual.<br />
<br />
<i>Trecho</i><br />
<i><br /></i><br />
<i>Sobre uma mesa velha, no quintal, com o sol nascendo, lavávamos seu corpo. O pai queria fazer alguma coisa. o avô tinha se sujado muito. Não eram propriamente fezes, mas um líquido com sangue e células podres. Fui procurar um terno, havia um no armário. Mas encontrei apenas sapatos velhos.</i><br />
<i>Voltei para o quintal, ele continuava soltando aquele líquido podre. O pai me mandou pegar a mangueira, eu me lembrei da época em que matávamos um porco, o animal era pelado e lavado antes de ser aberto. A diferença é que agora íamos fechar um corpo. O pai apertava a barriga magra do avô, eu jogava água na mesa. Quando não saiu mais nada, fizemos a barba dele e lavamos de novo o corpo, secamos e o embrulhamos em um lençol branco. Depois de me ajudar a carregá-lo para a cama, o pai ficou no quintal limpando a sujeira, jogando terra seca no chão úmido. Eram oito horas, o sol alto, o comércio estava abrindo. Peguei o carro e saí para providenciar o enterro.</i><br />
<i><br /></i><br />
<i><br /></i>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-84697664930558873942012-01-29T13:46:00.000-08:002012-01-29T13:46:03.522-08:00Incompleto movimento, de Alberto Bresciani<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiULYtt18YzhAAcI9sh3Is6rtVuqagUmuemMyyQ1mxVoHvAeqbsTn07T1GUkS_bY4j6boXpUUo4iT1BPDKNTeFc-G9jwex3T5XNHeANwb5Q2_hIKEUL7UE4qLe7SA0onR2BI1s/s1600/bresciani.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiULYtt18YzhAAcI9sh3Is6rtVuqagUmuemMyyQ1mxVoHvAeqbsTn07T1GUkS_bY4j6boXpUUo4iT1BPDKNTeFc-G9jwex3T5XNHeANwb5Q2_hIKEUL7UE4qLe7SA0onR2BI1s/s320/bresciani.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Alberto Bresciani resolveu lançar seu primeiro livro aos cinquenta anos. É fato interessante, claro. Não sei se deveria ter editado antes, só posso comentar o que tenho em mãos. E tenho um livro consistente, de um poeta seguro, tarimbado. Demorei três meses, fiz quatro leituras da obra. Claro que um poema e outro me agradaram mais e estes li outras vezes. Após a primeira leitura, escrevi uma mensagem para o Bresciani contando que, após ler livros como este, tenho vontade de aposentar a caneta. Acho que isso não é coisa que se diz, mas estou sendo honesto. Saio deprimido de uma obra assim, porque eu queria ter esse domínio da linguagem.<br />
<div>
O que vou escrever aqui não é novidade. Eu carrego um caderno por onde vou - nele anoto palavras, pensamentos, reflexões, ideias. Tenho rabiscadas observações sobre quase todos os livros que li. Os que valem a pena, lógico. Quando se trata de um livro de versos, registro as palavras que mais aparecem. Nesta antologia do Bresciani, não tenho dúvidas, três palavras se repetem o tempo todo, mas nenhuma como a "pele". Assim é que eu imagino que o escritor nos dá uma dica de como ler sua obra.</div>
<div>
Como o autor separa as cento e dez páginas da coletânea em quatro partes: "Dos gestos que transfiguram", "Dos gestos que iluminam", "Dos gestos que atordoam" e "Dos gestos que paralisam", pude ter uma ideia geral da construção que ele arquitetou.</div>
<div>
Juntemos o gesto à pele, qual o resultado? Relacionamentos. Quando observamos, nos relacionamos. Como enxergar o que existe, como, como observadores, como interventores, agimos no mundo, modificando-o, interpretando-o? Talvez Bresciani tenha tentado não responder estas questões, mas refletir sobre elas. Abro agora o livro ao acaso, escolho um título de um poema, "Idioma" e lá está:</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<i>Nestes signos</i></div>
<div>
<i>a reinscrição do talvez</i></div>
<div>
<i>sopro que não morde</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>só se escreve no ar</i></div>
<div>
<i>os olhos quase podem ver</i></div>
<div>
<i>e, quem sabe, um dia desvelar</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
Assim segue o desejo, quase tangível. Um desejo amainado, vez ou outra por um gesto que captura uma esperança de compreensão, de descanso, como nos versos de "Cronologia":</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<i>nas mãos, entre os braços</i></div>
<div>
<i>no peito, na plenitude</i></div>
<div>
<i>dos pelos e da pele</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>à mira </i></div>
<div>
<i>da boca, das garras, dos dentes</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
Há, para mim, um recado claro: a compreensão está sempre um passo adiante, nossa tarefa é, então, persegui-la. Aí vai o poema "Opostos":</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<i>A extensa via obriga</i></div>
<div>
<i>a mãos inversas</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Nem a luz é toda</i></div>
<div>
<i>brilha por prismas</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Em cada foco</i></div>
<div>
<i>a distância se amplia</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Nada nos une</i></div>
<div>
<i>ou decifra.</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-37030935388901874972011-12-29T03:39:00.000-08:002011-12-29T03:41:52.918-08:00Sobre "Perdição', de Luiz VilelaNão escrevo resenhas há três anos e as observações que farei aqui não podem ser consideradas crítica literária, mas somente comentários baseados em minhas leituras. Muito do que vem a seguir pode ser aplicado a qualquer obra de Luiz Vilela, embora eu esteja tratando, especificamente, de Perdição, seu romance recém-lançado.<br />
<br />
- Nos textos de Vilela, o narrador não é onipresente - ele sempre sabe de algo porque viu ou porque alguém lhe contou. Ele, portanto, repassa ao leitor a sua mensagem, que, evidente, pode estar corrompida. Isso gera um efeito interessante: nunca se sabe o que é verdade e o que é invenção. <br />
<br />
- Os diálogos são o ponto principal da obra de Luiz Vilela. Mas diálogo é algo complicado na literatura. Então, o escritor tem de fazer uma escolha: ou ele transcreve a fala das pessoas, imitando-a em seus menores detalhes como ela é ou considera a fala algo diferente da escrita e por isso adota a norma culta para os diálogos. Luiz Vilela escolhe a segunda opção. Assim, pode parecer estranho que um feirante utilize o pretérito maisque-perfeito, mas não é, pois o diálogo é somente uma representação escrita do que foi dito oralmente, de uma outra maneira, mas com o mesmo significado. Como o narrador não é onipresente, a "transcrição" dos diálogos não precisa ser fidedigna. E mesmo se em alguns casos ele está presente durante o diálogo, não é neste momento que ele passa para o papel o que ouviu.<br />
<br />
- A força e a precisão dos diálogos está na voz própria de cada personagem - um padre tem seus cacoetes linguísticos, um pescador idem.<br />
<br />
- Para dar um caráter informal e também para amenizar e ao mesmo tempo aumentar a tensão, há piadas, muitas piadas e também ditos populares. De amenidade em amenidade, o leitor prende a respiração, se prepara para a fisgada, pois sabe que a qualquer instante a conversa pode tomar um rumo inesperado.<br />
<br />
- A história principal é simples e curta: um pescador se torna pastor, vai para a capital, ganha muito dinheiro com os fiéis e se crê acima de tudo, poderoso. Leva um tombo e se decepciona com o mundo. Só que não se pode escrever 400 páginas sobre isso. Daí que o livro traz muitas personagens secundárias, muitas histórias paralelas.<br />
<br />
- Um clássico. <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-BnRJL7UDEAk/TvxRZBOOCiI/AAAAAAAAATM/HUdHtMzMlBg/s1600/luizvilelagde.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-BnRJL7UDEAk/TvxRZBOOCiI/AAAAAAAAATM/HUdHtMzMlBg/s320/luizvilelagde.gif" width="207" /></a></div>
<br />
<br />whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-71570574044281903312011-11-14T12:20:00.001-08:002011-11-15T03:44:29.474-08:00O sol nas feridas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBRGjdTAN6Nznc1QCcKuyRwmdIb5nrWuuR4zsgodcFKT5KPtHhKmHeVtTWLjN3VAsIjF8s_q0a-aSXKzuUgep7wulnLh3beknHuClRrYRn4ItOz4yQZl7CXicUzNQvLzMU2GQG/s1600/solferidas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBRGjdTAN6Nznc1QCcKuyRwmdIb5nrWuuR4zsgodcFKT5KPtHhKmHeVtTWLjN3VAsIjF8s_q0a-aSXKzuUgep7wulnLh3beknHuClRrYRn4ItOz4yQZl7CXicUzNQvLzMU2GQG/s1600/solferidas.jpg" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Ronaldo Cagiano retorna com tudo à poesia. E volta mais irônico, mais cáustico, o que pode ser percebido por meio dos temas, alguns deles trabalhados pela primeira vez pelo poeta. A força da linguagem permanece, o lirismo e as homenagens também estão lá. Mas Cagiano parece ter abandonado aquele trato quase contido com as situações, aquele pisar em ovos dos livros anteriores, para escancarar a sua visão das coisas, o que foi extremamente positivo para sua literatura. Ouso até afirmar que os seus versos ficaram mais amargos. Vejam um exemplo no poema "Onde estava Deus,"<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Onde estava Deus,</div>
<div>
<br /></div>
<div>
quando Hitler avançou </div>
<div>
com seus coturnos, suas bombas</div>
<div>
seus campos de concentração</div>
<div>
sobre toda a humanidade?</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Em outro poema, "Ad nauseam", ainda sobre o mesmo tema das religiões:</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Quando alguém vem falar de Deus</div>
<div>
dou-lhe as costas</div>
<div>
e abro um livro.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Mas não é somente denúncia, é também recordação. A sua Cataguases, sempre mítica e inalcançável em sua pequenas de província também está neste livro:</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Quando nasci, uma parteira,</div>
<div>
dessas que nos inauguram</div>
<div>
na febre dos dias, disse:</div>
<div>
Vai, menino! ser alguém no mundo,</div>
<div>
e saia de Cataguases</div>
<div>
para não ficares menor que ela.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ao falar de si, de suas provações, de suas dores, Cagiano é mais incisivo, como no poema "Despedida":</div>
<div>
<br /></div>
<div>
No agosto em que meu pai morreu</div>
<div>
a vida tornou-se uma pátria incompreensível</div>
<div>
e o mundo um albergue de inverdades.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
No leito em que dormitavam com ele</div>
<div>
todas suas dores e</div>
<div>
falhavam as energias</div>
<div>
eu depositava décadas de silêncios</div>
<div>
e olhares mudos.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Aquele que encarar os mais de sessenta poemas pode ter certeza de que não sairá impune da empreitada. "O sol nas feridas" é para corajosos, para esses leitores cada vez mais raros.</div>
<div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
</div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-63395188971162280582011-10-25T12:20:00.000-07:002011-10-25T12:25:13.746-07:00As certezas e as palavras, Carlos Henrique Schroeder<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV0AX9zEF0Y5knNh2xkfLAvaxqzRbEnr3oe3USgVLpZ4-zSJKyp36m3bTkqhvXDcQ_z-5AcXKUy-YXY_2KOuGoVgfb491Ti2tBEhiSclKbXLtYyPpfh3YdjjC8hniWmNPDjvgZ/s1600/schroeder.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV0AX9zEF0Y5knNh2xkfLAvaxqzRbEnr3oe3USgVLpZ4-zSJKyp36m3bTkqhvXDcQ_z-5AcXKUy-YXY_2KOuGoVgfb491Ti2tBEhiSclKbXLtYyPpfh3YdjjC8hniWmNPDjvgZ/s320/schroeder.jpg" width="230" /></a></div>
<br />
<br />
Os dezenove contos deste livro de Schroeder tratam da única certeza que todos temos: a de estarmos sós. Assim, os relacionamentos não funcionam, nenhum tipo deles, pois o homem parece sempre em busca de algo que não poderá ter jamais. Esse sentimento de impotência é muito bem retratado na literatura de Schroeder, muito por causa de um lirismo às vezes impertinente, que surge quase por acaso em um parágrafo ou outro.<br />
E há também a violência, o despudor. O maniqueísmo não tem mais lugar no mundo de hoje, “meus heróis morreram de overdose”, cantaria Cazuza. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, sentenciaria Augusto dos Anjos. Mas essa violência nunca é gratuita, é uma face da solidão e Schroeder sabe disso, essa Geração zero zero, à qual pertence, sabe disso.<br />
Ao mesmo tempo, o leitor perceberá que não há explicação para nada. Há a tentativa de explicação – as palavras, que, se chegam até o homem, não o humanizam. A muleta das palavras, como diz o próprio autor em uma das epígrafes do livro. Uma muleta capenga, que não ajeita o passo de ninguém, apenas ampara, de uma maneira limitada, mas eficiente. A muleta necessária, mas não suficiente.<br />
Há vários contos que me agradam muito, como “As certezas e as palavras”, em que uma das personagens é viciada na palavra “opróbio” e fica criando textos em cima dela, exercitando a sua própria solidão. Ou então “O tempo que resta”, sobre uma rodovia que tira vidas, um conto melancólico, em que nada parece acontecer, como se todo o texto fosse apenas a descrição de uma fome e de um medo, um medo comum a todos, um medo alimentado pela certeza da solidão e da morte. Gosto também do erotismo romântico do conto “Não diga noite”, em que a imagem se torna mais importante do que o sentimento, ou então que o sentimento só pode ser compreendido pela imagem. O que faz todo o sentido, pois atravessamos uma época em que tudo nos chega primeiramente pela visão. Outro dia comecei um texto me perguntando sobre a tarefa do escritor nos dias de hoje, em que, no câmbio cultural, precisamos de mil palavras para comprar uma imagem. Schroeder sabe disso, ele sabe que a palavra não muda mais nada, que a palavra está em desuso, que a palavra não chega a mais ninguém, porque os homens estão caminhando para seu destino de máquinas (novamente parafraseio uma epigrafe de “A certeza e as palavras”).<br />
E os contos têm muitas citações, muitas homenagens, mas elas nunca parecem excessivas, pois fazem parte do contexto, estão ali para ajudar o roteiro. Além disso, sabemos que o leitor não está acostumado a ler Paul Auster, Maurice Blanchot, Alan Pauls ou Dylan Thomas, o que significa que as passagens escolhidas por Carlos Henrique Schroeder têm a função de apresentar estes autores, de fazer com que o leitor se apaixone por estes grandes pensadores, que o leitor Para contrabalançar, há muitas menções pops, principalmente pinçadas do rock. Legião Urbana, Joy Division e assim por diante, o que nos deixa, nós que estamos chegando aos quarenta, mais à vontade. Ouvir Joy Division hoje ainda é possível. Gravar Joy Division e The National num mesmo pen drive é possível.<br />
Eu recomendo este livro porque é bom, é fruto de um autor maduro e quem ler os contos que foram reunidos nesta obra pode ter a certeza que passará bons momentos em companhia de uma literatura forte, que não deixa e nem quer deixar nada a dever a nada ou a ninguém.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-5287916054224545242011-10-15T09:30:00.000-07:002011-10-15T09:30:00.925-07:00AtualizaçãoEstou testando os novos recursos do Blogger, pois penso em voltar a postar aqui.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-7885157823237983352010-06-02T03:46:00.000-07:002010-06-02T03:46:41.082-07:00O deus brincalhão, Gilberto G. Pereira<span style="font-size: 78%;"><i>“Caminhou contra as línguas de fogo. Estas não morderam sua carne, estas o acariciaram e o inundaram sem calor e sem combustão. Com alívio, com humilhação, com terror, compreendeu que ele também era uma aparência, que outro o estava sonhando.”</i> Jorge Luis Borges (As ruínas circulares)</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn3T7dMSGXGUUy9PRqm7bX2Gzt1muBuXY5NF9lnYV0roqlDigKvs0G59J2ZJWtHCdM7UaczBt-xJFsHpSqTRWeGwO-Skwt-YULMYllC-NkrnX_T2Fql7HtFBO6UkacQOiW5LSf/s1600/olivrodacarne.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn3T7dMSGXGUUy9PRqm7bX2Gzt1muBuXY5NF9lnYV0roqlDigKvs0G59J2ZJWtHCdM7UaczBt-xJFsHpSqTRWeGwO-Skwt-YULMYllC-NkrnX_T2Fql7HtFBO6UkacQOiW5LSf/s320/olivrodacarne.JPG" /></a></div><br />
<br />
<div align="justify">“No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. (...) E o verbo se fez carne e habitou entre nós.” Embora haja semelhanças, Este que aparece no <b>Evangelho de João</b> não é o deus crivado nas palavras da mais recente publicação do mineiro Whisner Fraga, <b>O livro da carne</b> (7 Letras, 2010, 80 páginas). Aqui, quem reina é um deus brincalhão, embora também saiba dar sua cota de tragédia e drama. É um deus cheio de poesia mundana, atada por tiras de fibra sagrada.<br />
<br />
Mas também a <b>Bíblia</b> é um longo poema da criação, alguém pode argumentar com autoridade. E por isso mesmo, ao largo dos versos de Fraga, o sujeito poético, neste caso, o próprio deus, está imbuído de propriedades divinas do Velho Jeová e até de Cristo. No entanto, o espaço lúdico construído na geografia poética de O Livro da Carne oferece uma multiplicidade de sonhos e desejos, um turbilhão de rebeldia e senso de desconstrução, que vão além desses deuses ultrapassados.<br />
<br />
Não é raro, neste livro insólito, o leitor se deparar com versos que renegam a velha tradição, ou que retiram dela o substrato de sua verdade, para recriar a vida, para partir praticamente do zero e criar de novo os ossos, os nervos, a carne, e talvez a inteligência. Mas aí já é exigir demais de um deus.<br />
<br />
Os poemas são uma espécie de receita, ou ordem, conselho, todos nascem do imperativo, todos giram em torno de verbos no infinito, que é a potência determinante da linguagem verbal. “Empalhar deuses”, diz um verso. “Tolerar as feridas chamuscadas de lodo/ De deuses sem fé/ E sem divindade”, dizem outros versos. “Dois deuses cochilam no assoalho do criado”, observa o sujeito poético em outro poema.<br />
<br />
Em “Roteiro para empreender a fuga”, vemos um exemplo de como a ideia de evangelho, ainda esconsa no testamento anterior, está inserida, como quem faz o mesmo caminho messiânico já conhecido, só que em outra dimensão. “Reter o vão/ Chacoalhar guizos de canduras/ Afivelar saudades/ Olhar derradeiro as disposições dos trigos/ recolher as tranças das rosas/ Beirar a ânsia de conter o então/ E depois.”<br />
<br />
O desfecho do poema, que pode sugerir Moisés e seu séquito, é cheio de graça mundana, cheio de riso, quase uma pilhéria, mas, ao mesmo tempo, carregado de perplexidade e uma vontadezinha de ficar, de não ir embora: “Levar também a chave/ Para um possível retorno.”<br />
<br />
Os títulos de cada poema são índices voltaicos que ajudam o leitor a penetrar o universo da criação desse deus que muitas vezes é puramente infantil, um deus menino. “Receita para dividir o vento”, “Roteiro para edificar o nada”, “Para ninar espíritos”, “Para prolongar infâncias”. É assim que vemos um desfile de propostas nascentes.<br />
<br />
<b><i>O arco e a lira</i></b><br />
<br />
Uma dessas propostas explora com vigor poético a imagem de um personagem caro ao Deus hebreu e cristão, mas que também não tira o pé do terreno infantil, do imaginário de uma infância altiva e que já sabe planejar. É um poema que vale ser posto em sua totalidade aqui para a devida apreciação:<br />
<br />
“Para escolher forquilhas”<br />
<br />
<i>Optar pelo galho mais alegre<br />
De goiabeira de fim de cinza<br />
De noite arredia<br />
E sacis xeretas<br />
Enfim se decidir pelo corte:<br />
Improvável cumprir completo a vida<br />
Esticar braços condoídos<br />
Para teste da melhor goma<br />
E divertir dos amigos<br />
A penúltima manhã amarela<br />
Não alvejar canários ou azulões<br />
Nem estrelas<br />
Acolher o travesseiro o estilingue<br />
Ao presságio de outras guerras.</i><br />
<br />
Quem traça esse plano não é um garoto, mas é. É e não é. É um deus menino que parece dar à luz a infância de um guerreiro, cuja primeira arma é o estilingue. Uma funda. Estamos diante de um vir-a-ser de Davi. É a recriação de um guerreiro caro a Jeová, por que ele soube conduzir o povo de Israel, embora tenha sido controverso e tenha decepcionado seu Senhor.<br />
<br />
Este Davi, tal como aparece aqui, não está na <b>Bíblia</b>, claro, é fruto do novo deus. Mas seu futuro é vencer outro Golias. Sua tarefa é dormir e sonhar com a batalha e a vitória que virão. O que deve ser enxergado nesse poema, como construção poética, é essa imagem buscada, ou rebuscada, entre os objetos de infância do poeta, mas não só isso, entre elementos da cultura brasileira, do imaginário da cultura popular tupiniquim.<br />
<br />
É bom lembrar que a literatura de Fraga faz dos mitos uma ferramenta afiada para esculpir os signos atuais. Nestes poemas de <b>O livro da carne</b>, o que vemos é uma extensão temática de sua prosa. Muitos versos remetem a personagens e situações já trabalhadas em livros anteriores, como Helena, que está em <b><a href="http://leiturasdogiba.blogspot.com/2009/05/abismo-poente-rancor-e-remorso-no-sol.html">Abismo poente</a></b>.<br />
<br />
Sua marca segue a tradição poética. Não se alcança o significado polissêmico proposto sem a perseguição do ritmo e a disposição das palavras, suas formas dançantes e troca de sílabas ressoantes entre uma palavra e outra. Esta poesia, cheia de brincadeiras, esta experimentação poética, como um deus que brinca de criar, tem muito daquilo que se chama de sentido logopeico, em que se fincam significados substanciais.<br />
<br />
<b><i>Abismo</i></b><br />
<br />
A denominação conceitual trabalhada por Ezra Pound nos ajuda, e muito, a fixar significados aqui. Em <b>O livro da carne</b>, além dos recursos vocabulares, há também a riqueza da melopeia (musicalidade) e, principalmente, a exploração fosfórica da fanopeia (condensação poética que forja o significado por meio da sugestão de imagens), porque é por ela que encontramos as figuras mais fulminantes deste livro.<br />
<br />
Como em “Receita para tolerar a miséria do voo”:<br />
<br />
<i>Contra o viço e o alvoroço resedá<br />
A transição do peito engatilhado<br />
Atenuar a voracidade do húmus<br />
O hostil e inquieto rumor de precariedades<br />
O disparo vermelho<br />
O tambor com seus desgostos giratórios<br />
E o projétil da vez<br />
O pulso mortificado pelo curso vacilante<br />
Que já nem denuncia uma pista da vida<br />
Como urubus camicases.</i><br />
<br />
Depois de várias receitas sobre como criar um novo mundo de gente mais humana, resgatando um projeto divino que falhou, que malogrou entre todos os deuses do passado, o sujeito poético aparece com uma receita de acabamento final, uma sugestão de suicídio. “Receita para tolerar a miséria do voo” é, por isso mesmo, um dos poemas mais interessantes do livro, porque chega como uma espécie de abertura para o abismo da existência, porque emerge como chave para fechar o que havia sido aberto como possibilidade.<br />
<br />
Em todo <b>O livro da carne</b>, as temáticas rondam os poemas como uma engrenagem de moinho. No entanto, o mais interessante é que muitas vezes as palavras dançam no interior do poema, como acontece em “Receita para tolerar a miséria do voo”. O desenho do suicídio vai surgindo justamente nessa dança fúnebre dos vocábulos.<br />
<br />
Além do metralhar onomatopaico de ‘contra, alvoroço, transição’, e inversões silábicas entre ‘atenuar’ e ‘voracidade’, o leitor segue o drama macabro com os termos “peito engatilhado”, “rumor de precariedades” (que é a própria vida), “disparo vermelho”, “tambor” (do revólver), “projétil” e a execução final, em que o pulso fenece e já não há mais vida.<br />
<br />
Os últimos versos desenham bem a beleza mortífera do poema: depois do tiro, o pulso, aquele que poderia conferir a vida, está como urubus camicases. O termo “urubus camicases” faz o leitor levantar os olhos e reparar o título. Ele vê ali “miséria do voo”, e se baixar vertiginosamente as vistas completará “miséria do voo da vida” e sentirá o baque da queda.<br />
<br />
Os urubus voam alto, e só descem para saborear a morte dos outros, para comer carcaças, carniças, mas ainda assim, dão pista de vida, pelo menos a deles próprios, ou, em última hipótese, indicam que houve ali uma vida. Mas urubus camicases são urubus suicidas, eles descem do céu, em voos fulminantes, para, hipoteticamente, se racharem no chão. Não há mais nada.<br />
<br />
<b><i>Sopro de verbo</i></b><br />
<br />
Em <b>O livro da carne</b>, possibilidades são o que não faltam aos poemas, que, junto ao lirismo, oferecem versos de violência e ternura, como quem quer abarcar a vida toda. Tudo é uma tentativa. A começar pela proposta de fazer versos com verbos no infinitivo para quase todas as peças. Entre uma página e outro, há ideias micros e projetos macros. Neste sentido, é um livro repleno de mundos e sonhos, em que a natureza humana se aproxima de novo da Natureza. E a magia, a artimanha, está presente em cada sopro de verbo.<br />
<br />
Como autor, Fraga carrega uma luz literária peculiar. Escreve com absoluta consciência. E isso é bom. Para quem gosta de referências, há aqui algo que lembra Manoel de Barros. Mas parece que suas fontes estão num passado mais longínquo, como a Bíblia, a mitologia, as verdades religiosas, desbancadas em cada uma das receitas poéticas.<br />
<br />
Estas receitas riem da febre de livros de autoajuda que inundaram o mercado editorial nos últimos anos. Mas também, se seguirmos o ritmo dos versos, sentiremos uma sensação de que estamos orando, fazendo uma prece. São preces poéticas, que acabam contrariando o sentido da vida na religião. É um novo religare. Coisa que se faz muito na literatura. Aliás, no fim das contas, a literatura é isso, uma espécie de religião ao contrário, cujos deuses são humanos demais, próximos demais de cada leitor.<br />
<br />
Acompanhando os versos, o leitor pode chegar a uma conclusão. Talvez essas regras, essas recomendações, ou ordens presentes em <b>O livro da carne</b>, sejam para ele mesmo, para o próprio deus propositor da nova existência. Talvez essa escritura seja como bilhetes na porta da geladeira que as pessoas solteiras e que moram sozinhas deixam, na desculpa de ter pouca memória, mas que, no fundo, é para travar um diálogo consigo mesmas, diálogos para espantar a solidão. Todos os deuses estão sós. </div><div align="justify">(Publicado originalmente no jornal <b><a href="http://www.tribunadoplanalto.com.br/index.php/cultura.html">Tribuna do Planalto</a></b>, 30/05/2010)</div><div align="justify"><br />
<b>Serviço</b></div><br />
Título: <a href="http://www.7letras.com.br/"><b>O livro da carne</b></a><br />
Autora: Whisner Fraga<br />
Editora: 7 Letras, 2010, 80 páginas<br />
Gênero: Poesia<br />
Preço: R$ 28,00whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-5556175762522002302010-05-06T10:55:00.000-07:002010-05-06T10:55:32.114-07:00O legado de Eszter<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge2h-iGZCTkrTCM5XwJqaG_O4Yq3jN-tGDsjUviGOx9qIKvR38OotvN1NkuwbgbaQiubqdBa6s4HqBIuhgs1D88oFb9g0TjA0qE9WB5icHIpWs52USDAmuaAJtO0yZ1EN5EUdK/s1600/legado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge2h-iGZCTkrTCM5XwJqaG_O4Yq3jN-tGDsjUviGOx9qIKvR38OotvN1NkuwbgbaQiubqdBa6s4HqBIuhgs1D88oFb9g0TjA0qE9WB5icHIpWs52USDAmuaAJtO0yZ1EN5EUdK/s320/legado.jpg" /></a></div><br />
<br />
Minha ideia inicial era falar de algum livro do Georges Perec, mas depois de ter lido "De verdade" do escritor austro-húngaro Sándor Márai (1900 - 1989), resolvi falar um pouco deste sujeito corajoso, que deu um tiro na própria cabeça aos 89 anos. O legado de Eszter é um ótimo livro, mas não é o melhor de Márai. Nele, Eszter é uma mulher beirando a terceira idade, apaixonada por um malando, Lajos, que se casou com sua irmã. Vinte anos longe e o camarada resolve retornar para uma visitinha de um dia. O forte do romance, como em todas as demais obras de Sándor, é a construção das personagens. O escritor não poupa ironia e sagacidade ao retratar o lado mesquinho dos relacionamentos e o faz de maneira poética, contida e precisa.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-60396512973877154132010-04-19T09:17:00.001-07:002010-04-19T09:17:42.009-07:00Livro da carneSaiu. Esta semana começa a chegar às livrarias meu novo livro. O primeiro de poesias. Coloquei alguns exemplares na Estante Virtual a preços bem módicos. Este livro é um projeto paralelo, no qual vinha trabalhando desde 2002. Várias poesias foram publicadas naquelas agendas que o PSTU vende. Isso desde 2003. Só que eu as retrabalhei e foram publicadas de modo diferente neste livro da carne. A capa ficou muito bonita, na minha opinião e todo o projeto gráfico de tirar o chapéu. O texto da orelha ficou por conta do Paulo Bentancur.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMP3nuUY0VlA9rFaNTmVOm7g8MNnKtnuyJggqnPbUOLg3RJKjfZdmM-2IUnmgfwk6ItfJwbhB5X2vw2k7FXo5kdYOEPkNrTtKckBW8VcGy-EjXafQbErKAZ5YXfOyfxuKyiDo0/s1600/olivrodacarne.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMP3nuUY0VlA9rFaNTmVOm7g8MNnKtnuyJggqnPbUOLg3RJKjfZdmM-2IUnmgfwk6ItfJwbhB5X2vw2k7FXo5kdYOEPkNrTtKckBW8VcGy-EjXafQbErKAZ5YXfOyfxuKyiDo0/s320/olivrodacarne.JPG" /></a></div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-81208642744406874272010-03-08T09:09:00.000-08:002010-03-08T11:07:14.874-08:00Elvira Vigna, Nada a dizer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl9gasGY14OozOUnKbzwAIWrW46Of88Js0RYyvj164nk7KjghFQaYanyLih52yOm93rU_7u8YTNS2tHxp5OV3X9ccQ8Ij2dURY9MYXRWHG792QxXqCW0mawrCw7PuFHjfF6UMh/s1600-h/elviravigna.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl9gasGY14OozOUnKbzwAIWrW46Of88Js0RYyvj164nk7KjghFQaYanyLih52yOm93rU_7u8YTNS2tHxp5OV3X9ccQ8Ij2dURY9MYXRWHG792QxXqCW0mawrCw7PuFHjfF6UMh/s320/elviravigna.jpg" /></a></div><br />
A classe média granjeou, há algumas décadas, o direito à liberdade sexual, mas até hoje ainda não aprendeu o que fazer com essa conquista. Verdade q a hipocrisia que imperava antigamente entre os casais se converteu em um justificável, porém nada franco, chumbo trocado. Ninguém é de ninguém, já defende a música. Entretanto, ainda existem o sonho (sobretudo feminino) do véu e da grinalda, dos filhos quebrando a casa e da constituição de uma <i>cellula mater</i>. O egoísmo, que não deixará de existir, porque é uma condição humana. <br />
No último romance de Elvira Vigna, <i>Nada a dizer</i>, lançado pela Companhia das Letras, em fevereiro de 2010, a narradora tenta esmiuçar o pensamento feminino a respeito da traição. Com uma dose de proselitismo, ela pretende nos ensinar que o homem trai com maior facilidade. O que parece até ser verdade. Uma mulher de meia idade, que parece já ter passado dessa meia idade, apresenta ao leitor os detalhes de uma traição. Uma não, duas. A primeira, contudo, não conta, o marido Paulo, resolve dar uma escapa de uma tarde com uma garota de programa. O medo da narradora, de resto como parece ser o temor de toda mulher dessa classe média-alta é o do envolvimento. Por isso que, quando surge N. na vida de ambos, a coisa complica, porque N. acaba se configurando em um caso, logo em uma competidora, em um fato que faz com que se questione o comodismo que se tornou o cotidiano dessa sociedade mesquinha. Mesmo a narradora apostando que N. não tem grandes chances de fundar uma família com seu marido, permanece como uma competidora, porque apresentou à narradora a fragilidade de uma instituição que julgava forte o bastante para subjugar o lugar-comum da falta de intimidade.<br />
Para a narradora, parece não haver problema nenhum que ambos tenham saído de casamentos fracassados para montar esta outra família, construída de estilhaços de crenças anteriores (e ultrapassadas). O que interessa é o autoconhecimento, mas também é importante o conhecimento do outro, com quem divide a cama há vários anos. <i>Nada a dizer</i> resume o silêncio que facilita a vida - explicar é complicado, o melhor é ir levando. O bom é que a narradora reconhece seu erro na história: cobra demais, força demais uma proximidade que Paulo não deseja a todo instante.<br />
Elvira Vigna faz a sua personagem esmiuçar os traumas que a infidelidade de Paulo e N. gerou em seus respectivos cônjuges. Porque não é possível que só a esposa de Paulo fosse inteligente e somente ela tenha descoberto a traição. Mas é um acerto de contas consigo mesma, que vai agradar sobretudo as leitoras, porque, apesar da prosa direta e envolvente, diz mais respeito a elas. Um homem pode até tirar lições da história (embora não seja este o objetivo da autora e nem é o da literatura), mas não vai mudar. É a condição humana a que me referi lá atrás.<br />
O livro começa delineando com precisão o avanço dos acontecimentos, o que pode ser constatado nas datas - o romance inicia com um "16 de novembro". Quem é que pode acreditar em uma perdão se a mulher rastreia com essa pontualidade (em alguns trechos nem a hora faltou) os passos em falso do marido? Quando tudo parece se cicatrizar, a narradora vai amenizando essa obsessão e as datas passam a ser mais vagas - um "agosto", um "setembro" indiferente. É o processo de redenção e esquecimento.<br />
Há muito sexo em todo o livro e ele não tem aquela leveza sentimental dos apaixonados, é material, quase uma outra personagem. Tem o caráter de prazer, de descanso, e, pode-se notar nas entrelinhas, que é uma das razões do silêncio. O sexo em si, o momento em que é consumado, não requer diálogos elaborados, sendo, portanto, um instante de fuga. Quando não queriam conversar, corriam para a cama. Talvez o maior ganho dessa geração tenha sido justamente o prazer sem culpa (embora somente com o parceiro do momento).<br />
<i> Nada a dizer</i> é um livro inquietante. Só o fato de eu levantar tantas dúvidas sobre os ideais que a narradora defende, já o atesta. Auxiliada por uma escrita exata, que gasta o tempo necessário com digressões, Elvira Vigna se impõe como uma escritora que sabe para onde conduzir seu leitor. Só não concordo com um trecho da orelha: "Uma das argúcias da autora é mimetizar a prosa confessional de autoexposição, tão em voga nos nossos dias." Afirmar que Vigna mimetiza uma prosa confessional é diminuir sua obra, porque é justamente na confissão da narradora, na dúvida que deixa sobre o que é biográfico e o que não é que se encontra a grandeza de sua literatura.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-85507321416316371952010-02-02T04:07:00.000-08:002010-02-02T04:07:07.013-08:00troia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLqxrrw2fwplVUnXwaEMRcux2HtS3FdD1V07HOjW8Ja3ejN-G9ooUHAaWKghPFERgeQwCtUzmtn-uxbR9B4reoN8MKFPftQ1R_iB4IAhuipNcYpUz8e3EQNxOu_v-5qrEZi6_T/s1600-h/youssef.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLqxrrw2fwplVUnXwaEMRcux2HtS3FdD1V07HOjW8Ja3ejN-G9ooUHAaWKghPFERgeQwCtUzmtn-uxbR9B4reoN8MKFPftQ1R_iB4IAhuipNcYpUz8e3EQNxOu_v-5qrEZi6_T/s320/youssef.JPG" /></a></div><br />
Quando eu comento por aí que reescrevo um conto, não quero dizer que só faço alguns cortes, de palavras e de frases. Além disso, eu acrescento parágrafos, mudo o roteiro, o final, a trama, o que for preciso. Tem esse conto, que escrevi em 2000, que se chamava "o homem de meia cidade", e que me persegue e venho reescrevendo-o desde então. A última versão pode ser conferida no jornal "A união", suplemento "Correio das artes", de <a href="http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=58&Itemid=67" mce_href="http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=58&Itemid=67">09 de janeiro de 2009</a>.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-86096569155066635772010-01-18T08:06:00.000-08:002010-01-18T08:06:22.424-08:00Ninguém me verá chorar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsXhBU5g5co2x9UKV03dYjMIk_a_E77n3gBtAB2jBaC-a39dTRC-3GwUYdoglCyDobzjz6GRKZOB6jToD-HTyIxlwm8_zxapmIGbcs6PRUZZsA8Q0eLxcQBwh2OHb-EL0SuD1l/s1600-h/cristina_riv.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsXhBU5g5co2x9UKV03dYjMIk_a_E77n3gBtAB2jBaC-a39dTRC-3GwUYdoglCyDobzjz6GRKZOB6jToD-HTyIxlwm8_zxapmIGbcs6PRUZZsA8Q0eLxcQBwh2OHb-EL0SuD1l/s400/cristina_riv.jpg" /></a><br />
</div><br />
Quem me sugeriu a leitura deste livro foi o poeta e amigo Osvaldo Rodrigues. Se você desejar ver o sujeito em ação, é só clicar <a href="http://www.youtube.com/watch?v=9h_0_-ijPFY">aqui</a>. Primeiro a autora: Cristina Rivera Garza - mexicana, nascida em 1964, estudiosa da história de seu país. Sua tese de doutorado, defendida na Universidade de Houston, tem como título "The masters of the streets. Bodies, power and modernity in Mexico, 1876 - 1930, em que trata do mundo das ruas, do manicômio e outras instituições de controle social no México porfiriano e na alvorada da pós-revolução. Boa parte deste seu romance "Ninguém me verá chorar" trata deste assunto.<br />
Um dos méritos de Cristina é não misturar o estilo do ensaio com as regras da ficção. Seu livro é, definitivamente, uma obra de ficção. Claro que os dados históricos, que servem de pano de fundo para sua trama, são precisos, mas envoltos por um estilo discreto e elegante, em que são deixados de lado o sentimentalismo e a saída fácil, em detrimento daquilo que deseja narrar.<br />
A epígrafe dá uma dica do que o leitor encontrará nas páginas da obra:<br />
"Esta paciente apresenta bom comportamento. Gosta de trabalhar, é dedicada e tem bom caráter. A paciente fala muito, este é seu distúrbio." (Estudo psicopatológico da paciente Matilda Burgos, do pavilhão das tranquilas, primeira parte).<br />
A pesquisadora, ao se deparar com este documento, resolve criar uma explicação para a estadia de Matilda Burgos no sanatório. E se sai muito bem. Como Cristina Rivera quer contar uma história de amor, será o amor - seja a uma mulher, ao país, ao caos - a danação de todas as personagens da obra. É época de revolução, um período em que tudo é possível e a desgraça inevitável. Apaixonar-se nestes tempos é arriscado e Matilda não teme os riscos. Quando se torna prostituta, é sem remorso que assume a função, é com um sentimento de inevitabilidade e de reverência a uma força maior, a necessidade. Cristina consegue se isolar, deixa com que todos sigam seu destino de tragédias, o que é raro. Ela procura e quase sempre consegue não interferir nas ações das personagens. É um mérito e tanto.<br />
<br />
Trecho:<br />
<i><br />
</i><br />
<i>Há certas coisas em Matilda que o divertem. Seu nervosismo, sobretudo. O ruído de sua saia quando passa perto dele. A maneira com que seu olhar se perde por motivos desconhecidos a ele. O que ela vê? Como? Com o passar dos dias, acostuma-se às suas mudanças de humor, às marés súbitas de sua energia: os dias exaltados, seguidos rapidamente por dias tristonhos. Há horas em que Matilda é incapaz de permanecer sentada sem fazer nada. Presa de uma atividade febril, limpa o chão, remenda cortinas ou se põe a ensaiar passos de dança ditados por sua imaginação. Fala sem parar e as palavras se atropelam por trás dos dentes. Ri às gargahadas. Em seguida, sem aviso, sem motivo aparente, á dias inteiros que não muda de posição. Joaquín a alimenta, lava de vez em quando sua roupa e esquenta a água para o chá ou café. Somente ele vai à cidade. Pouco a pouco, dentro do silêncio da casa sem móveis, ele está se tornando o marido da baunilha.</i><br />
<br />
<br />
Ninguém me verá chorando (Nadie me verá llorar), Cristina Rivera Garza. Editora Francis, 2005. Tradução de Ledusha B. A. Spinardi. 264 páginas.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-55451913269824428682009-12-24T03:27:00.000-08:002012-06-29T14:52:05.328-07:00Dramaturgo e pianista<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg37uveeTqVNj2IHk0lyEhk1a9tjFA4SbS3nmiq1p1EDmnycA262WD6UaCWgsk9ESOWhvFh9mNMWwlD5OVVH-VnqX3_2pmjPgxiaXd2rq19t_4PfB48Enu8mAFaE91CGBjEwWg5/s1600-h/atirepianista.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg37uveeTqVNj2IHk0lyEhk1a9tjFA4SbS3nmiq1p1EDmnycA262WD6UaCWgsk9ESOWhvFh9mNMWwlD5OVVH-VnqX3_2pmjPgxiaXd2rq19t_4PfB48Enu8mAFaE91CGBjEwWg5/s400/atirepianista.JPG" /></a></div>
<br />
Pulp fiction. O termo se notabilizou graças ao filme homônimo de Tarantino. Sugere uma literatura barata, o que pode confundir o leitor. Barata no sentido de ser impressa em papel de baixa qualidade para diminuir custos. Não quer dizer, absolutamente, falta de qualidade. Aliás, há obras-primas entre esses livros. Lia uma matéria na Folha de São Paulo sobre os quatro tiros que o Mário Bortolotto levou em um boteco da Praça Roosevelt quando resolvi escrever este post. Na reportagem, a autora dizia que Bortolotto se inspirou no livro "Atire no pianista", de David Goodis para dar o título ao seu blog: "<a href="http://atirenodramaturgo.zip.net/">Atire no dramaturgo</a>". Não conhecia nada da obra de Goodis, então corri atrás.<br />
Na capa da obra, editada em 1984 pela Abril Cultural (lançado originalmente pela Gawcett Publications, em 1956), pode-se ler: "O lirismo da violência, da solidão e do terror". Perfeita descrição da obra. No livro é possível medir a densidade de sangue por página, há tiro em cada parágrafo, mas há também uma literatura envolvente, um lirismo a toda prova. David Goodis consegue prender o leitor. Eu mesmo não queria largar o livro antes do final.<br />
A este respeito, andei lendo umas críticas negativas sobre o novo livro de António Lobo Antúnes. A justificativa: um livro difícil. Ora, parece que estão confundindo tudo. "Atire no pianista" é um livro fácil, fácil demais até e mesmo assim não é uma obra de baixa qualidade. Tem lá seus muitos méritos. A questão é: Goodis não quis fazer um livro difícil, quis escrever um romance que prendesse o leitor e ponto final. No meio disso, há frases de impacto, uma literatura bem feita, com uma história muito bem construída e ponto.<br />
Na "Pulp fiction" sempre há crimes. Há um mocinho que tenta ficar com a mocinha, mas não vai conseguir, porque no final prefere o álcool, prefere a solidão ou esta inevitavelmente o persegue. Em "Atire no pianista" não é diferente - Eddie é um virtuose que trabalha em uma espelunca chamada "Taverna da Harriet". O que um sujeito desses faz num boteco tão sórdido? É o enigma do livro, que vai sendo decifrado pouco a pouco. E a explicação é plausível, comovente até.<br />
A tradução não está lá essas coisas. Para dar um exemplo, em determinado parágrafo eu contei cinco verbos "ouvir" - dois deles na mesma frase. Imperdoável. Fui conferir no original "Down there" e não é nada disso. A elegância a que me referi está lá com todas as letras. É claro que o Bortolotto é um boêmio, assim como Eddie e tenta ressuscitar a Praça Roosevelt com seu talento e seus amigos artistas. No fundo é um sentimental, que não dá valor ao dinheiro, como Eddie. Talvez apenas por motivos diferentes. Li por aí que fez errado ao enfrentar os bandidos para proteger os amigos. Eu não sei, sinceramente não sei. Acho que buraco é mais fundo, só isso.<br />
Em "Atire no pianista" há um negócio bem interessante: Goodis transcreve os pensamentos de Eddie, que são sempre conflituosos. O que ele pensa nunca é o que faz. Só por isso o romance já valeria a pena.<br />
<br />
Um trecho da tradução de Ubirajara Forte:<br />
<br />
<b>"Fui eu?", perguntou Eddie a si mesmo. "Fui realmente eu? Sim, fui. Mas, não pode ser. Eu sou o Eddie. Eddie não faria uma coisa dessas. O homem capaz disso era aquele vagabundo, que já não existe há muito tempo, o selvagem, cuja bebida favorita era o próprio sangue, cujo prato favorito eram os vadios da <i>Cozinha do Inferno</i>, os desordeiros da rua Bowery, os arruaceiros de Greenpoint. Mas isso fazia parte de outra cidade, outro mundo. No mundo ao qual Eddie pertence, ele senta-se ao piano, toca sua música, indiferente a tudo. Então por que..."</b><br />
<br />
<br />
PS: Feliz Natal a todos. Deem livros de presente.<b><br />
</b>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-46166335600084822632009-12-09T03:41:00.001-08:002009-12-09T03:41:48.287-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ9L0pgaeNIbxWnR3tofE7fODOF7TiS02OtySl8RtCbhotckci4tQW7FZKCu1K0Qy10mxMV8rEPSbWFCRsfeXQsswth-WQ72Y_d34RJHsL2_cBiFE2XiNgwJuap73Le4zEDyks/s1600-h/convite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ9L0pgaeNIbxWnR3tofE7fODOF7TiS02OtySl8RtCbhotckci4tQW7FZKCu1K0Qy10mxMV8rEPSbWFCRsfeXQsswth-WQ72Y_d34RJHsL2_cBiFE2XiNgwJuap73Le4zEDyks/s640/convite.jpg" /></a><br />
</div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-65411306989079687602009-11-02T11:23:00.000-08:002009-11-02T11:23:49.492-08:00Herta Müller<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi517MsTy69gZ2y-ZUQ8UnWReowwuoPhhKhkS2ivhLCnAykzrj9n6uOpqGTIc6KFqPpLTaPp5sJuImvsWr_6ZU6ZELF_FuTFEOuWbj8Om4StxP322P-jaZ9zx1oCokI5wUogGg4/s1600-h/muller+faisao.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi517MsTy69gZ2y-ZUQ8UnWReowwuoPhhKhkS2ivhLCnAykzrj9n6uOpqGTIc6KFqPpLTaPp5sJuImvsWr_6ZU6ZELF_FuTFEOuWbj8Om4StxP322P-jaZ9zx1oCokI5wUogGg4/s320/muller+faisao.JPG" /></a><br />
</div><br />
<br />
<div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">O mundo se perguntou quem era a escritora romena naturalizada alemã que venceu o Nobel de literatura este ano. Alguns afoitos arriscaram opiniões duvidosas. Daniel Piza foi ousado ao dizer que Müller é uma <a href="http://blog.estadao.com.br/blog/piza/?title=respostas_ao_nobel&more=1&c=1&tb=1&pb=1">escritora de segunda</a>. Analisou a escritora considerando apenas uma obra e - pior - uma tradução. Pior ainda: tradução de Lya Luft. Acusou seus leitores de não terem lido o único livro de Herta publicado no Brasil - O compromisso, editado pela Globo. Bobagem, foram os estertores da vaidade. O fato é que a tradução da Lya Luft é fraca. Não vou aborrecer meus poucos leitores com detalhes da tradução. Até porque não tive acesso ao livro inteiro em alemão, mas somente a partes. Entretanto, o título nos dá uma boa ideia das opções da tradutora. No original: Heute wär mir lieber nicht begegnet. Em português: O compromisso. Depois de analisar a baixa qualidade da tradução, resolvi tentar outra obra. Pesquisei em sebos e encontrei uma boa versão feita na terrinha. Mais: consegui uma versão em espanhol também. Ainda não me considero conhecedor da literatura de Herta Müller, mas vou avançando. Até porque encontrar os livros de Herta é tarefa complicada, seja em alemão, em português ou em outra língua. Entrei em contato com livrarias alemãs em São Paulo e nada.<br />
</div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><br />
</div><b style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">O homem é um grande faisão sobre a terra. </b><meta content="Microsoft Word 12" name="Originator"></meta><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CBichos%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"></link><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CBichos%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx" rel="themeData" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"></link><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CBichos%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml" rel="colorSchemeMapping" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"></link><style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-1610611985 1107304683 0 0 159 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:10.0pt;
margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoPapDefault
{mso-style-type:export-only;
margin-bottom:10.0pt;
line-height:115%;}
@page Section1
{size:595.3pt 841.9pt;
margin:72.0pt 72.0pt 72.0pt 72.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.Section1
{page:Section1;}
-->
</style> <br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><b><span lang="EN-US">Der Mensch ist ein gro</span>β<span lang="EN-US">er Fasan auf der Welt.</span></b><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Já podemos visualizar nesta tradução um pouco do estilo enigmático e elíptico que faz desta obra de Herta Müller uma coisa única na literatura. Logo no início da obra, a explicação para o título, uma nota da tradutora (Maria Antonieta C. Mendonça): "O título reporta-se ao provérbio romeno 'O homem é um grande faisão sobre a terra', o qual pretende estabelecer a associação entre o voo desajeitado do faisão e os defeitos e a acção desastrosa do homem sobre o mundo que o rodeia." Não pude deixar de relacionar com o "Albatroz", de Baudelaire. É um livro bonito, cujo tema é caro à autora: a imigração. No caso a luta de uma família romena para se mudar para a Alemanha. O casal: Windisch e a mulher. A filha Amalie. As frases são curtas, o que facilita a leitura em alemão. Ao estilo de James Salter, a mesma elegância.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Windisch é um pai agoniado que tenta justificar a corrupção da filha, que usa o sexo para conseguir o passaporte: "'A minha filha', diz Windisch medindo mentalmente a frase, 'a minha Amalie também já não é virgem'. O guarda-nocturno olha para a nuvem vermelha. 'As barrigas das pernas da minha filha parecem melões', diz Windisch." Ao mesmo tempo, a vida na Romênia é insuportável. Há sim muito de autobiográfico, já que o livro foi escrito quando Herta Müller tentava o visto para se mudar para a Alemanha.<br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Todos sabem que a escola do vencedor do Nobel passa por questões políticas. Mas há literatura ali também, há uma escritora laureada e respeitada na Europa. Não é somente dizer que foi uma surpresa, que é uma escritora de segunda, que mereciam muito mais o Nobel Philip Roth, Claudio Magris, Amós Oz. Até acrescentaria outros aí nesta lista, principalmente António Lobo Antúnes e por que não Rubem Fonseca?</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Um trecho da tradução para que vocês julguem:</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">"As crianças agrupam-se em semi-círculo, segundo o tamanho, em frente da secretária do professor. Comprimem as palmas das mãos sobre as coxas. Elevam o queixo. Os olhos tornam-se grandes e húmidos. Cantam em voz alta.</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Os meninos e as meninas são soldadinhos. O hino tem sete estrofes.</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Amalie pendura o mapa da Roménia na parede.</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">'Todos os meninos moram em blocos de apartamentos ou em casas', diz Amalie. 'Cada casa tem quartos. Todas as casas juntas formam uma grande casa. Esta grande casa é nossa terra. A nossa pátria.'</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Amalie aponta para o mapa. 'Esta é a nossa pátria', diz ela. Com a ponta do dedo procura os pontos negros no mapa. 'Isto são cidades da nossa pátria', diz Amalie. 'As cidades são os quartos desta grande casa, da nossa terra. Nas nossas casas moram o nosso pai e a nossa mãe. São os nossos pais. Cada criança tem os seus pais. Tal como o nosso pai na cada em que nós vivemos é o pai, assim o camarada Nicolau Ceausescu é o pai da nossa terra. E tal como a nossa mãe na casa em que nós vivemos é a nossa mãe, assim a camarada Elena Ceausescu é a mãe da nossa terra. O camarada Nicolau Ceausescu é o pai de todas as crianças. E a camarada Elena Ceausescu é a mãe de todas as crianças. Todas as crianças amam o camarada e a camarada porque eles são os seus pais.'"</span><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;">Aí está toda a ironia do livro: Amalie não ama seu pai e sua mãe, que usam a sua beleza para fugir do regime totalitário de seu país. É um livro muito bonito, escrito de maneira primorosa por uma grande escritora. Uma escritora de primeira. </span><br />
</div><br />
whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-41433845890876704902009-09-27T06:20:00.000-07:002009-09-27T06:20:17.120-07:00BukowskiRecordo-me de um amigo dos tempos da pós-graduação, que precisava traduzir um bom trecho de uma tese escrita em holandês. Só que ele não sabia nada dessa língua e não conhecia ninguém que soubesse. Então, conseguiu um dicionário em um sebo e foi traduzindo, intuindo, até chegar em frases que faziam certo sentido. Em uma semana traduziu uma página e meia, duas, no máximo. Mas aí ele já não era a mesma pessoa, era alguém que tinha uma leve noção do que era conhecer uma outra língua e sabia que dali pra frente traduzir seriauma tarefa cada dia mais fácil. Eis uma poesia de Bukowski, de que gosto muito:<br />
<br />
<b>the souls of dead animals</b><br />
<br />
after the slaughterhouse<br />
there was a bar around the corner<br />
and I sat in there<br />
and watched the sun go down<br />
through the window,<br />
a window that overlooked a lot<br />
full of tall dry weeds.<br />
<br />
I never showered with the boys at the<br />
plant<br />
after work<br />
so I smelled of sweat and<br />
blood.<br />
the smell of sweat lessens after a while<br />
but the blood-smell begins to fulminate<br />
and gain power.<br />
<br />
I smoked cigarettes and drank beer<br />
until I felt good enough to<br />
board the bus<br />
with the souls of all those dead<br />
animals riding with<br />
me;<br />
heads would turn slightly<br />
women would rise and move away from<br />
me.<br />
<br />
when I got off the bus<br />
I only had a block to walk<br />
and one stairway up to my<br />
room<br />
where I'd turn on my radio and<br />
light a cigarette<br />
and nobody minded me<br />
at all.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-92080248477411023422009-09-20T16:02:00.000-07:002009-09-20T16:03:40.568-07:00Poetas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc3VwmxI9PzJK_RnsThob6U5fpdtCYrNTEsBBUqEUqAqPDRThcrADIgnHb7UrInaZVvS37nxaPl0bgH-rp_SC9s_CuA8tYtQE_fbyK7pPeFtFqDOtLG53wOd22fs4YaAkbM2-3/s1600-h/bukowski.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc3VwmxI9PzJK_RnsThob6U5fpdtCYrNTEsBBUqEUqAqPDRThcrADIgnHb7UrInaZVvS37nxaPl0bgH-rp_SC9s_CuA8tYtQE_fbyK7pPeFtFqDOtLG53wOd22fs4YaAkbM2-3/s320/bukowski.JPG" /></a><br />
</div><br />
<br />
Estou distante deste blog porque me dedico há vários dias à obra completa de dois poetas: Bukowski e Cummings. O problema é que pouco há a dizer sobre eles e por isso meu silêncio. Pouco resta a dizer porque muito já foi dito. E meu silêncio expressa também a grandiosidade das obras. Frente aos versos, me sinto impotente, inútil. É como ouvir Mozart. O mínimo que devemos fazer é nos calar.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQlxmQI4VO2-nXz3mIf2hwobbgC-ZVVCzgam50WIYdkFyVGy9OMj3VjXS2fe3Niv6FsF7nZVm26NYKU0bP1HwDS5I8mDSolRlgHD3acPkhVlFRsFvNvv4OJJHm9Aq9utWH1n_l/s1600-h/cummings.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQlxmQI4VO2-nXz3mIf2hwobbgC-ZVVCzgam50WIYdkFyVGy9OMj3VjXS2fe3Niv6FsF7nZVm26NYKU0bP1HwDS5I8mDSolRlgHD3acPkhVlFRsFvNvv4OJJHm9Aq9utWH1n_l/s320/cummings.JPG" /></a><a class="cssButton" href="javascript:void(0)" id="publishButton" onclick="if (this.className.indexOf("ubtn-disabled") == -1) {var e = document['postingForm'].publish;(e.length) ? e[0].click() : e.click(); if (window.event) window.event.cancelBubble = true; return false;}" target=""></a><br />
</div><div class="cssButtonOuter"><div class="cssButtonMiddle"><div class="cssButtonInner"><a class="cssButton" href="javascript:void(0)" id="publishButton" onclick="if (this.className.indexOf("ubtn-disabled") == -1) {var e = document['postingForm'].publish;(e.length) ? e[0].click() : e.click(); if (window.event) window.event.cancelBubble = true; return false;}" target="">Publicar postagem</a><br />
</div></div></div>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-65516404113789302592009-09-07T10:35:00.000-07:002009-09-07T10:38:42.343-07:00Resenha de Silas Correa Leite<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB85aZ_BsLRp1dzuxNzSbJwmJ82bKmc2etNVFXqAOpDG79mFfPC9Tq3tBBUdiKk487KnvpirEE2INAP9MhV99u54YPVX0_6XnjtJp2gidIX-9uzpfONBSNS6BoegavtR5JYjED/s1600-h/Capa_Espirais.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 270px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB85aZ_BsLRp1dzuxNzSbJwmJ82bKmc2etNVFXqAOpDG79mFfPC9Tq3tBBUdiKk487KnvpirEE2INAP9MhV99u54YPVX0_6XnjtJp2gidIX-9uzpfONBSNS6BoegavtR5JYjED/s400/Capa_Espirais.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5378781149136731538" border="0" /></a><br /><span style="font-weight: bold;"><br /><br />Fragrâncias e Ordenhas Historiais em “As Espirais de Outubro”, Romance de Whisner Fraga</span><br /><br />“Mas não se preocupe, meu amigo/<br />Com os horrores que eu lhe digo/<br />A vida realmente é diferente/<br />Ao vivo é muito pior...”<br /><br />Belchior<br /><br />Aila, personagem principal narradora-memorialista do romance “As Espirais de Outubro”, ora no passado, ora no presente, ora no futural (o Nobel de Literatura brasileiro), ora um sem tempo ou tempo nenhum, o que dizer dela? Implicações, reinações, florações. Respigando. Paradoxos, ossos e ócios do oficio de ler-ser-escrever-ter-se (tecer-se). Brilhante romance como se fosse escrito a ferro e afago; escrito como uma espátula impressionista a arrancar fios, recalques, tiras, simulações, descaminhos, espirais – da vida-obra-livro: Aila ela mesma no fim do seu íntimo outonal.<br /><br />Tantos personagens-páginas vão e voltam, estão e soam, dizem, costuram elementos-paisagens e assim compõem a estrutura narrativa do belo romance do Whisner Fraga, já autor de Coreografia dos Danados (Edições Galo Branco 2002), e A Cidade Devolvida (7 Letras, 2005). A intimidade devassada pela velha escritora em um apartamento no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. O nome do bairro já alude a um rasgo de incêndios revisitados pela ótica da narradora-personagem querendo assim alumiar resquícios de vida louca, personagem de si mesma em agonia a esperar um fim, sem ter se dado um fim em si mesmo, preferindo prolongar a agonia de viver no que escreve, mesmo negando isso. Nas reminiscências ficando a sua espécie assim de continuação... Como se ordenhasse as ovelhas das memórias recapituladas em prosa poética, mas com estilo, qualificação, ora desbunde, ora rancor, sempre o que foi (tem sido) naquilo que agora expropria entre erranças associadas, heranças historiais e inventários de si mesma no camarim das horas e honras indispostas. Penumbras.<br /><br />A melhor obra é quando o próprio autor morre no final? Mortos acompanham a obra de Aila/Whisner. Um cortejo de palavras, tristices, corpos, danações. Fantasmas pontuando parágrafos como se querendo compor lidas adjacentes, a colocarem pingos em dáblios, não em is. O apartamento. A cidade. Tudo ali, vida em viço, o inicio, a composição de, depois o estado decrépito, erros e acertos, fragrâncias e decomposições. O câncer, o Nobel, o diário-romance (reinventando a vida em declínio?), lembrando aqui e ali Clarice Lispector, ora Hilda Hist, ora Lygia Fagundes Telles, mas sempre ele mesmo Whisner com talento e maestria levando a correção do livro e à corrosão de uma vida-personagem enlivrada. O diabo mora nos desfechos? Mergulhos em maldições. A coitada da vez tendo voz-escrita. Não tem como não se encantar com Aila. A mulher carregando a violência, quase incapaz de domá-la, no entanto com trejeitos peculiares costurando-a nas contações, domando, por fim, a ordenha de momentos, fragmentos, destilos, despojos, jorros narrativos da feia e fera se entregando de mão beijada. Tem um toque poético e um jeito que cutuca um enfoque meio Nelson Rodrigues em certas paragens-interpretações do sentimento ledor, da existência-monstro-poderoso com brincadeiras e perversidades. Ai de ti Botafogo!<br /><br />A espera pela morte, da morte. Familiares reduzidos a momentos e sentenças. Amigos catados de escombros, e ainda assim dando alguns suportes afetivos. Personagens-relações transfigurados, compondo o cenário de amor, dor e de horror com reticências. Será o impossível? O ar abafadiço estaciona na memória requentada. Os vazios da rotina. O livro-filho-continuação. Presenças e ausências ressentidas. Janelas da alma no quarador de tantas implicações, alguma de fundo falso. Lugares fechados, sombrios. Pés enxofrados das palavras-libertações. O mesmo lugar, lugar nenhum, qualquer lugar em si mesmo.<br /><br />Você, na correria estúpida da vida in Sampa também embrutecida, quer ler o livro do Whisner Fraga de supetão, não consegue. É corrompido a ler como um desgaste de ferrugens da alma da Aila, é levado a parar, truncar, ir e voltar, rever, como se arrancasse suas próprias espirais e tivesse que adentrar àquele mundo criado lento, devagar, aos poucos, na prosa poética que seduz, cativa, aponta dedos em faces que ora chegam, ora saem, entrecortando parágrafos como se tudo fosse uma balburdia literal de acasos, ocasos e pertencimentos querendo ser avaliados, feito desespelhos. Memórias sangram palavras. Não é fácil procurar culpados, pior, achá-los. Não se podendo parir um filho, poder parir um livro, não deixando um legado de horror-filho mas um legado de reconciliação-livro. Escrever continua sendo mais fácil do quem existir.<br /><br />O pai, a mãe, Augusto, Catarina, Karina, Adriano, Fabrícia, todos (presenças arrebanhadas), a cara e a corrosão da autora-Aila em parecenças. Iguais diferentes? Cada um com sua cruz-crusoé, ilha-alheamento. Nós. Suicídio, indiferença, a faca da linguagem cegando, instantes-trevas. Vaidades antigas, corpo em desalinho, embriagações em memórias talvez inventadas. O ser-não-ser? Clandestinos amores, ecos, zelos, não há lógica na mortevida, no destino, apenas capitulações, vestígios de ausências, exercícios de perdas. A morte sendo preparada em livro. A freira, o homossexual, a vida boêmia, o Rio de Janeiro continua límpido. Entre sombras amealhando curtumes. O diário-monólogo, o último ato antes de. Qualquer coisa. Espirais. Maldições e coitados tendo voz. Por eles, por Aila mesmo, em recomposições a espera do final que certamente virá. Melancolia. Sentimento de esterilidade frente ao que passou, se passou (se passou?), foi, está, virá, é cruz-destino. A campainha. O telefone. A vida-fera e o recolhimento antes do último suspiro. Veias de comunicações in-terrompidas...<br /><br />“...a cidade decadente, cinza, com suas baías comprometidas, fétidas, os rios acuados no meio de uma civilização agressiva, o mal que fizemos escancara-se por todos os lados” (Pg 36). Os poros da Aila ela mesma essa cidade que narra. Não pode sair de si, mas pode expandir-se no que corajosa destila, escreve, nomeia, delata, conta, romanceia na metalingüística de escrever sobre o que descreve. O desmanche de coisas que não quer que migrem para o vazio. Escrever é ficar de alguma maneira entre rascunhos e escritas-momentos?.<br /><br />Carcaças agônicas preenchendo vazios. Não ser esperada e não esperar. Muito triste. Escreve para se ter consigo mesma. Ah o self.<br /><br />“A morte se aproxima e polvilha sobre a minha cabeça todas as faltas arrebanhadas, exige um balanço final ou um prelúdio para o encontro fatal, quando me cobrarão erros” (Pg 52). A longevidade desastrosa, as situações obsessivas, conflitos, filtros de. Um romance sobre a escrita dele. Memórias vasculhadas. Rascunhos e originais. A preparação para o desfecho bendito/maldito. Os loucos são especiais pra Deus? Há um Deus? Viver é a qualquer custo? Sobreviver tem um preço, dói desatinadamente. E re-eescrever o subViver, feito mesmo assim um escreViver? Prazer Prozac de viver? A consciência do Zero.<br /><br />“Essa palavra tão banalizada, nada pode acrescentar à história que não seja dúvida” (PG 108). Nomeações que seriam (foram) imprudentes. Pondo o dedo com indisfarçável rancor (negado) em feridas revisitadas. Consciência pesada e vaidade leve. O querer não querendo. O desdizer. O negar afirmando. Contundências. O desgosto de lembrar, pior, ter que lembrar para auditar (auditar?) o que foi real e o que deveria ter sido, poderia ter sido, só o é no que nomina sob disfarces e a expectativa do fim, no camarim da vida se extinguindo...<br /><br />“Como explicar ao filho o mecanismo do patinete? A escolha do galho da goiabeira mais propício à construção do estilingue(...)” (Pg 122). O futuro na morte resgatando a obra que ficou... O filho que não teve (drumondeando) e fez-se livro?<br /><br />Um Dia, pré-final: romance misturando descrições e evocações, imaginário e aventuroso, contradições, o alterego, licenças poéticas, tudo tirado do mesmo final. Feliz ou infeliz? Ler pra saber. Isso fica com a sensibilidade atiçada do leitor no envolvimento, ele também um reinventor do que lê, pelo que pensa, sente, aquilata, do que tem de bagagem e gosto por leituras de peso. O romance As Espirais de Outubro é sim, um clássico. Um esgotamento de sensibilidade depois das páginas-lágrimas, vidas-personagens, verdadeiros espirais do talento e da sensibilidade do Whisner Fraga, num trabalho também de edição de belíssima qualidade sob a Coordenação Editorial do Valentim Facioli. Leia e sofra. Leia e viva. Leia e grude. Leia e curta. Leia e sinta por você mesmo. Leia e deguste o final do romance que na verdade não se enquadra assim a priori em estilo nenhum, é um trabalho literário mágico falando das incongruências da vida levada a reboque. Dor e agonia. Criação e criatura. Ah que bom que, assim como o passado tem asas, o escritor tem uma linguagem edificante, toda própria. O fazer falando do fazer. Todo bom escritor é isso: esperar que o leitor de alguma forma e por um seu motivo também morra no final. Saí mais leve dessa leitura-vida-e-morte. Em algum lugar do passado, em algum lugar do presente, aqui no livro-lugar do futuro. Ah as espirais do tempo-rei...<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Silas Correa Leite</span> – Escritor, Jornalista Comunitário, Teórico da Educação, Conselheiro em Direitos Humanos, pós-graduado em Arte e Literatura na Comunicação (ECA/USP) - E-mail: poesilas@terra.com.br Blogue: www.portas-lapsos.zip.net Autor de “Campo de Trigo Com Corvos”, Contos, Editora Design, finalista do Prêmio Telecom, Portugal, à venda no site www.livrariacultura.com.brwhisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-5628071651547605822009-08-29T11:20:00.000-07:002009-08-29T12:03:48.021-07:00Thomas Wolfe<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-lZCW6H6BVU7S8P89y-eDuO-sd_CIvLlK2pcIWGN-JP5Pm0BrCYrTLKTdpCXD9-YlegRCWcLFzJAcaSerhjfmjZKVZR5PGqkAByaw-7LsXIE3oDZyhTmlhLbFp8nbsHHrJSLV/s1600-h/thomaswolfe.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 265px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-lZCW6H6BVU7S8P89y-eDuO-sd_CIvLlK2pcIWGN-JP5Pm0BrCYrTLKTdpCXD9-YlegRCWcLFzJAcaSerhjfmjZKVZR5PGqkAByaw-7LsXIE3oDZyhTmlhLbFp8nbsHHrJSLV/s400/thomaswolfe.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5375462109789852338" border="0" /></a><br />Primeiro e mais importante: não confundir Thomas Wolfe (1900 - 1938) com Tom Wolf (1931 - ). Este último um jornalista americano que escreveu o best seller "A fogueira das vaidades" (The bonfire of the vanities) e que adotou o pseudônimo em homenagem a um dos maiores escritores da literatura de língua inglesa. Sobre Thomas Wolfe escreveu o Chicago Daily Tribune: "Reading the work of this genius is like listening to Wagner or watching the aurora borealis. It is an experience beside which the mill run of most fiction seems trivial and insignificant." Não é exagero. Seus contos são obras-primas da concisão e da elegância.<br />Primeiro eu quero falar sobre um conto de Thomas Wolfe: The lost boy. Traduzido no Brasil como "O menino perdido", por Marilene Felinto, narra a história de Grover, um garoto inteligente que é enganado por um padeiro sovina. Permeando o argumento aparentemente simples, há uma sórdida e triste história de racismo. Este conto é narrado pelo Grover e o que é apresentado ao leitor é seu ponto de vista. Depois temos as opiniões da mãe, do irmão e da irmã de Grover a seu respeito e assim se constrói uma das mais belas histórias que já tive a oportunidade de ler.<br />No conto "Arnold Pentland" (Parente de sangue na tradução de Felinto, percebemos a arte de Wolfe ao descrever o fracassado Arnold, que decide mudar de nome e de destino para se vingar da família que não soube educá-lo. Deste conto destaco o trecho:<br /><br />"Arnold Pentland was a man of thirty-six. He could have been rather smal of limb and figure had it not beem for his great soft shapeless fatness - a fatness pale and grimy that suggested animal surfeits of unwholesome food. He had lank, greasy hair of black, carelessly parted in the middle, his face, like all the rest of him, was pale and soft, the features blurred by fatness and further disfigured by a greasy smudge of beard. And from this fat, pale face his eyes, brown and weak, looked out on the world with a hysterical shyness of retreat, his mouth trembled uncertainly with a movement that seemed always on the verge of laughter and hysteria, and his voice gagged, worked, stuttered incoherently, or wrenched out desperate, shocking phrases with an effort that was almost as painful as the speech of a paralytic."<br /><br />A tradução de Felinto:<br /><br />"Arnold Pentland era um homem de trinta e seis anos. Seria um tanto pequeno de membros e compleição, não fosse por sua enorme obesidade amorfa - uma gordura pálida e encardida, que sugeria um empanturrar-se animalesco de comida insalubre. Tinha cabelo preto, escorrido e seboso, repartido no meio com desleixo; o rosto, como tudo nele, era pálido e mole, os traços encobertos pela gordura e ainda desfigurados por um borrão de barba. E sobre esse rosto pálido e obeso, seus olhos castanhos e doentios olhavam o mundo, refugiados numa timidez histérica; sua boca tremia insegura, num movimento que parecia sempre à beira da risada ou da histeria; e sua voz engasgava, debatia-se, gaguejava incoerente, ou soltava frases insensatas e chocantes, num esforço quase tão doloroso quanto o discurso de um paralítico."<br /><br />Este pedaço do conto nos dá a certeza de uma personagem derrotada pela vida: as palavras "pale" e "fatness" aparecem com frequência na descrição de Arnold, levando-nos a compará-lo com um urso que resolveu hibernar, também por questão de sobrevivência, porque é incapaz de encarar o mundo. A mãe, ciente de que errou em algum momento, toma o máximo cuidado com tudo o que lhe diz:<br /><br />"his mother, approaching him, spoke to him in the tender, almost pleading tone of a woman who is conscious of some past negligence in her treatment of her child and who is now, pitiably too late, truing to remedy it."<br /><br />"a mãe, aproximando-se dele, falou-lhe no tom suave, quase suplicante, de uma mulher que está consciente de alguma antiga negligência no tratamento que dispensou ao filho e que agora, infelizmente tarde demais, tenta remediar."<br /><br />O pai não consegue ignorar a fraqueza do filho e o humilha a todo instante. Thomas Wolfe descreve com tal elegância a história desta família que não conseguimos ter pena de Arnold, que escolheu a derrota como sua forma de revolta.<br /><br />Os trechos traduzidos por Marilene Felinto foram tirados do livro "O menino perdido e outros contos", editado em 1989 pela Iluminuras. Os originais eu copiei do livro "The complete short histories of Thomas Wolfe", editado pela Collier Books em 1989.<br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHgRm5vsp7Dn9IYHlmaKe3TqlKKQ2c0u-c7dYysE-YqB-uw2ZBtV1htQQLHF_Xwh226a3sfmYctyaBBOa7oTN4cSI3rw6U_yihSM1R-RTZIZ2BMQdk40oTz8hMgzs4Hu-cBBt5/s1600-h/thomasport.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 266px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHgRm5vsp7Dn9IYHlmaKe3TqlKKQ2c0u-c7dYysE-YqB-uw2ZBtV1htQQLHF_Xwh226a3sfmYctyaBBOa7oTN4cSI3rw6U_yihSM1R-RTZIZ2BMQdk40oTz8hMgzs4Hu-cBBt5/s400/thomasport.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5375463176257318834" border="0" /></a>whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18227222.post-49027273504033865282009-08-17T08:39:00.000-07:002009-08-17T10:15:07.549-07:00Sophie's choice<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjL2NbO-h9pIvAp1EX6i9uaHZEIzpwObpzL18876nw0KwDKe0V8mNXr__Q09BBzrOxqVutfGVdN-pAqOpywwiSaB5BUVC2GdknRt3a5rIeCs4neGD3LN8zuhSPPUeIDYJz-Achg/s1600-h/styron222.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 231px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjL2NbO-h9pIvAp1EX6i9uaHZEIzpwObpzL18876nw0KwDKe0V8mNXr__Q09BBzrOxqVutfGVdN-pAqOpywwiSaB5BUVC2GdknRt3a5rIeCs4neGD3LN8zuhSPPUeIDYJz-Achg/s400/styron222.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5370982193798653586" border="0" /></a><br /><br /><br />Nestes tempos em que todos tememos a gripe suína como o vírus que dizimará a raça humana, é triste recordar que o escritor William Styron (1925 - 2006) faleceu vitimado por uma pneumonia. Triste para mim, porque sempre sinto a morte de um artista de talento.<br />Poucos terão a coragem necessária para encarar as mais de seiscentas páginas de "A escolha de Sofia", do norteamericano Styron, publicadas em 1979. Para estas pessoas, há um filme razoável lançado em 1982, com Meryl Streep no papel principal. A película, é claro, não chega perto da beleza do romance, principalmente por causa da Meryl Streep. Considero-a uma boa atriz, mas imaginá-la no papel de Sofia é demais. Sofia é descrita no livro como possuidora de uma beleza selvagem e sublime, coisa difícil de se ver na Streep.<br />Se alguém for procurar por aí um resumo do livro, encontrará algo vagamente ilustrativo sobre um casal, um aspirante a escritor e o holocausto. Mas a história vai muito além disso. Alguns acharão algumas matérias mais profundas, que tentam explicar a escolha do título: também podem estar lendo informações incompletas.<br />Ao se aventurar pelo livro de Styron, o leitor deve ter em mente que se trata de um escritor norteamericano dos anos 50, o que quer dizer longas (embora não tediosas) descrições, diálogos precisos, embora igualmente compridos e uma narrativa que beira o jornalismo de Gay Talese. Nada disso é ruim, óbvio, é só uma maneira de escrever.<br />"A escolha de Sofia" narra a história do casal Nathan e Sofia, ele um jovem perturbado e ela uma polonesa católica, que amargou anos em campos de concentração e vai parar nos Estados Unidos numa tentativa de reconstruir sua vida. Para se juntar à história surge o sulista Stingo, alterego de Styron. Mas o fato é que naqueles anos eles não podem e de fato não transformam aquele relacionamento em um triângulo amoroso. Mas é explícita a incompreensão de Stingo quando se vê atraído por Nathan (embora nada se consuma a não ser em um sonho) e ainda mais explícita a descrição de uma cena de sexo entre Sofia e Stingo, quando afinal ela cede aos encantos do sulista, tem-se a impressão de que é muito mais por um sentimento materno e por uma dívida pelo amor que este nutre por ela.<br />Sofia é capturada por nazistas porque tenta contrabandear uns quilos de presunto, que levaria para a mãe moribunda. A polonesa vive um contundente sentimento de culpa, porque o pai era antissemita e porque a mãe morreu sem que recebesse a tão desejada carne. Além disso, quando Sofia é capturada está com os dois filhos, Jen e Eva. A escolha a fazer é a seguinte: um oficial nazista lhe explica que pelo fato de Sofia ser polonesa, ela tem de optar por um dos dois filhos, que seguirá para a câmara de gás. Mas a escolha não tem importância nenhuma do ponto de vista prático, pois seria apenas prolongar a existência. Todos que estavam ali tinham consciência que morreriam cedo ou tarde. Claro que isso não foi verdade, hoje sabemos que vários conseguiram escapar, mas pelo menos era o que todos aqueles judeus e poloneses tinham em mente. O fato é que se Sofia não escolhesse, ambos seriam levados imediatamente para a câmara.<br />Mas a escolha de Sofia é muito mais do que isso e é o que torna este um livro até certo ponto perturbador: percebemos que Sofia tem de viver com esse fardo de não poder ter tudo o que deseja jamais, então tem de escolher entre o amor por Nathan e a atração por Stingo. Tem de optar pela crença em um Nathan que pode ser curado de sua esquizofrenia e do uso abusivo de drogas ou pela lucidez de um mundo que não é esse conto de fadas. Parece-lhe que a Nova Iorque do final dos anos 40 é tão desumana quanto Auschwitz. Nesse meio tempo, não há como acreditar em Deus e Sofia sente que a única fuga que lhe é permitida vem por meio do sexo. E é por isso que Meryl Streep jamais poderia fazer algo que prestasse a esse respeito, porque ela pode até ser uma boa atriz, mas não dá para olhar para ela e sentir qualquer espécie de desejo nesta área.<br />Sofia sabe que não conseguirá descanso, porque está irremediavelmente marcada pelos traumas do campo de concentração, pela privação que passou durante anos e pelas doenças que quase a mataram. Há no livro esta sensação constante de erro: Sofia devia ter morrido, Nathan devia estar internado em um hospício e Styron devia se concentrar solitariamente na escrita do seu romance. Mas são esses equívocos de Deus (como descreve Styron) que preparam os homens para as tragédias.<br />O livro já foi acusado de auto-indulgente, mas olhar a obra sobre este prisma é diminuí-la. É claro que há muito de autobiográfico e o olhar que o autor lança sobre si mesmo é piedoso, o que não importa, já que é apenas um outro olhar e não o verdadeiro. A narrativa, os pontos de vista do narrador, as histórias selecionadas, a indulgência, tudo isso também é escolha. O romance não pode ser lido com olhos de hoje, quando tudo que podia ser escrito sobre os campos de concentração já foi escrito, na ficção e fora dela, sob pena de rotulá-lo de livro comercial, quando na verdade ele representa o ressurgimento da ficção estadunidense, ao mesmo tempo que sugere um novo tipo de narrativa, misturando elementos dos romances comerciais com um estilo quase nunca poético, mas pungente e preciso.whisnerhttp://www.blogger.com/profile/00207211778430892789noreply@blogger.com1