29 de maio de 2009

Festival

Ontem fiz leituras de poesias inéditas na Casa das Rosas. Hoje estou em São Francisco Xavier para acompanhar o Festival da Mantiqueira.

23 de maio de 2009

Bartleby, de Herman Melville


Vou transcrever o início do conto Bartleby, de Herman Melville, porque é um trecho maravilhoso:

I am a rather elderly man. The nature of my avocations for the last thirty years has brought me into more than ordinary contact with what would seem an interesting and somewhat singular set of men, of whom as yet nothing that I know of has ever been written: - I mean the law-copyists or scriveners. I have known very many of them, professionally and privately, and if I pleased, could relate divers histories, at which good-natured gentlemen might smile, and sentimental souls might weep. But I waive the biographies of all other scriveners for a few passages in the life of Bartleby, who was a scrivener of the strangest I ever saw or heard of. While of other law-copyists I might write the complete life, of Bartleby nothing of that sort can be done. I believe that no materials exist for a full and satisfactory biography of this man. It is an irreparable loss to literatura. Bartleby was one of those beings of whom nothing is ascertainable, except from the original sources, and in his case those are very small. What my own astonished eyes saw of Bartleby, that is all I know of him, except, indeed, one vague report which will appear in the sequel.

Quando procuro uma tradução razoável, prefiro as publicadas em Portugal. No Brasil, há pouco tempo que os editores vêm dando maior atenção às traduções, então muitos livros ainda não possuem versões à altura dos originais. As edições da Assírio & Alvim são as que recomendo:

Já tenho uma certa idade. A natureza das minhas ocupações, nos últimos trinta anos, pôs-me em contacto estreito com o que seria de considerar uma interessante e algo singular classe de homens, sobre a qual, que eu saiba, nada se escreveu ainda - quero dizer, os escrivães, ou copistas de foro. Conheci muitos deles, quer profissional quer particularmente, e, se me apetecesse, podia contar variadas histórias, acerca das quais os cavalheiros de boa índole ririam, ao passo que as almas sensíveis verteriam lágrimas. Mas eu ponho de lado as biografias de todos os outros, em troca de algumas passagens da vida de Bartleby, que era escrivão, o mais estranho que conheci ou de que ouvi falar. Enquanto de outros copitas do foro, eu poderia escrever a vida completa, acerca de Bartleby tal não é possível fazer-se. Creio não haver material existente de modo a fazer-se a biografia integral e capaz deste homem. É uma perda irreparável para a literatura. Bartleby era um desses seres acerca dos quais nada se pode concluir a não sser a partir de fontes originais, que, no seu caso, são mínimas. O que os meus próprios olhos, atónitos, viram de Bartleby, isso é tudo quanto sei dele, excepto, na verdade, determinado rumor, que aparecerá em devido tempo.


Sim, há problemas no trecho, que não chega a comprometer o resultado final, mas que poderiam ser evitados. Por exemplo, há dois "fazer-se" pertinhos um do outro. No original em inglês não há nada parecido. Uma boa revisão resolveria o caso. Entretanto, o tradutor, Gil de Carvalho, não é nenhum iniciante e prova isso lá no final do parágrafo, com uma solução elegante para a última frase, chegando a melhorar o estilo rebuscado de Melville: determinado rumor, que aparecerá em devido tempo. Perfeito!

Sobre a tradução, o próprio Gil de Carvalho se pronuncia:

Traduzir Melville, usar em português esta linguagem por vezes carregada, cruzada de várias tradições, tão alusiva, é problemático. O melhor mesmo é lê-lo no original.

Sim, é melhor mesmo. Bartleby é um conto de Herman Melville, publicado em 1853 e narra a história do escrivão Bartleby, um sujeito extremamente metódico, que trabalha todos os dias da semana, sem descanso e faz seu trabalho com extrema eficiência. Entretanto, se nega a realizar qualquer outra tarefa que não seja a de copiar, com o bordão "I would prefer not to do". Até que um dia ele realmente prefere não fazer mais nada e se põe estático no meio do escritório, recusando-se a deixar o local.

15 de maio de 2009

Bartleby




Quem é Bartleby? O leitor se lembrará primeiramente do personagem de Melville. Nas palavras de Enrique Vila-Matas:

Todos conocemos a los bartlebys, son esos seres en los que habita una profunda negación del mundo. Toman su nombre del escribiente Bartleby, ese oficinista de un relato de Herman Melville que jamás ha sido visto leyendo, ni siquiera un periódico; que, durante prolongados lapsos, se queda de pie mirando hacia fuera por la pálida ventana que hay tras un biombo, en dirección a un muro de ladrillo de Wall Street; que jamás ha ido a ninguna parte, pues vive en la oficina, incluso pasa en ella los domingos; que nunca ha dicho quién es, ni de dónde viene, ni si tiene parientes en este mundo; que, cuando se le pregunta dónde nació o se ele encarga un trabajo o se le pide que cuente algo sobre él, responde siempre diciendo:
- Preferiría no hacerlo.


Já conhecia o Vila-Matas, principalmente o seu "Viagem vertical", livro maravilhoso. Mas foi por causa do António Lobo Antúnes que cheguei até esta obra, "Bartleby y Compañía". O título do seu romance "Boa tarde às coisas aqui em baixo" surgiu graças ao companheiro Enrique Vila-Matas.

Bartleby y Compañia não é um romance, tampouco um livro de ensaios ou de contos. É uma brincadeira, sutil e inteligente. Uma obra-prima. Vila-Matas usa a figura deste escrevente para criar a metáfora da inutilidade da arte. Procura, em toda a história da literatura, os escritores que se negaram a escrever, os autores sem obras, aqueles que venceram a tentação da vaidade. Há uma parte muito interessante, dentre outras tão interessantes quanto, que é quando Vila-Matas fala do escritor suicida Chamfort:

Voy a hacer una tercera excepción con suicidas, voy a hacerla con chamfort. En una revista literaria, un artículo de Javier Cercas me ha puesto en la pista de un feroz partidario del No: el señor Chamfort, el mismo que decía que casi todos los hombres son esclavos porque no se atreven a pronunciar la palabra "no".
Como hombre de letras, Chamfort tuvo suerte desde el primer momento, conoció el éxito sin el menor esfuerzo. También el éxito en la vida. Le amaron las mujeres, y sus primeras obras, por mediocres que fueran, le abrieron los salones, ganando incluso el fervor real (Luis XVI y Mará Antonieta lloraban a lágrima viva al término de las representaciones de sus obras), entrando muy joven en la Academia Francesa, gozando desde el primer instante de un prestigio social extraordinario. Sin embargo, Chamfort sentía un desprecio infinito por el mundo que le rodeaba y muy pronto se enfrentó, hasta las últimas consecuencias, con las ventajas personales de las que disfrutaba. Era un moralista, pero no lo de los que estamos acostumbrados a soportar en nuestros tiempos, Chamfort no era un hipócrita, no decía que todo el mundo era horroroso para salvarse él mismo, sino que también se despreciaba cuando se miraba al espejo: "El hombre es un animal estúpido, si por mí se juzga."

Trecho de "Bartleby y compañía", de Enrique Vila-Matas (Barcelona, 1948).

10 de maio de 2009

Nós sabemos que muito raramente uma tradução consegue reproduzir a beleza do original (nem vamos discutir aqui sobre estilo).

He paused and gazed at her with his full, hazel eyes, almost hypnotic. "Now I consider," he added, "I can give a woman the darndest good time she can ask for, I think I can guarantee myself."

"And what sort of a good time?" asked Connie, gazing on him stillwith a sort of amazement, tha looked like Thrill; and underneath feeling nothing at all.

"Every sort of a good time, damn it, every sort! Dress, jewels up to a point, any nightclub you like, know anybody you want to know, live the pace... travel and be somebody wherever you go... Damn it, every sort of good time."

He spoke it almost in a brilliancy of triumph, and Connie lokked at him as if dazzled, and really feeling nothing at all. Hardly even the surface of her mind was tickled at he glowing prospects he offered her. Hardly even her most outside self responded, tha at any other time would have been thrilled. She just got no feeling from it, she couldn´t go off." She just sat and stared and looked dazzled, and felt nothing, only somewhere she smelt the extraordinarily unpleasant smell of the bitch-goddess.

A solução de Rodrigo Richter:

Calou-se, e encarou-a com os seus olhos cor de avelã, hipnotizantes.
- Pois bem: creio que posso dar a uma mulher toda a felicidade a que ela aspira. Serei o fiador de mim mesmo.
- Que felicidade? - perguntou Constance, sempre a olhá-lo com uma espécie de estupor que parecia paixão e não era nada.
- Toda a felicidade, todos os prazeres possíveis. Vestidos, jóias, todos os entretenimentos noturnos imagináveis, todas as relações que queira, todas as coisas da moda, viagens, situação social. Enfim, todas as felicidades, todos os prazeres.
Falava com uma espécie de eloquência triunfante que parecia fasciná-la e, no entanto, Constance nada sentia. Todas aquelas brilhantes promessas nem tocavam a superfície de seu ser. Nada nela reagia àspalavras de Mick. Não experimentava nenhum sentimento. Não podia "partir". Não se movia do lugar. Não experimentava sensação nenhuma - salvo a olfativa: o cheiro da deusa-cadela.

Lady Chatterley's lover foi escrito por D. H. Lawrence (1885 - 1930) e publicado em 1928. Dizem que a história é autobiográfica. De qualquer maneira, quem se interessar, pode lê-la aqui.

7 de maio de 2009

Carlos Fuentes não vem mais para a FLIP. Tomara que o Lobo Antunes não resolva cancelar na última hora também. Aqui, leitura de Martha Nowill e Christiane Tricerri.