23 de maio de 2009

Bartleby, de Herman Melville


Vou transcrever o início do conto Bartleby, de Herman Melville, porque é um trecho maravilhoso:

I am a rather elderly man. The nature of my avocations for the last thirty years has brought me into more than ordinary contact with what would seem an interesting and somewhat singular set of men, of whom as yet nothing that I know of has ever been written: - I mean the law-copyists or scriveners. I have known very many of them, professionally and privately, and if I pleased, could relate divers histories, at which good-natured gentlemen might smile, and sentimental souls might weep. But I waive the biographies of all other scriveners for a few passages in the life of Bartleby, who was a scrivener of the strangest I ever saw or heard of. While of other law-copyists I might write the complete life, of Bartleby nothing of that sort can be done. I believe that no materials exist for a full and satisfactory biography of this man. It is an irreparable loss to literatura. Bartleby was one of those beings of whom nothing is ascertainable, except from the original sources, and in his case those are very small. What my own astonished eyes saw of Bartleby, that is all I know of him, except, indeed, one vague report which will appear in the sequel.

Quando procuro uma tradução razoável, prefiro as publicadas em Portugal. No Brasil, há pouco tempo que os editores vêm dando maior atenção às traduções, então muitos livros ainda não possuem versões à altura dos originais. As edições da Assírio & Alvim são as que recomendo:

Já tenho uma certa idade. A natureza das minhas ocupações, nos últimos trinta anos, pôs-me em contacto estreito com o que seria de considerar uma interessante e algo singular classe de homens, sobre a qual, que eu saiba, nada se escreveu ainda - quero dizer, os escrivães, ou copistas de foro. Conheci muitos deles, quer profissional quer particularmente, e, se me apetecesse, podia contar variadas histórias, acerca das quais os cavalheiros de boa índole ririam, ao passo que as almas sensíveis verteriam lágrimas. Mas eu ponho de lado as biografias de todos os outros, em troca de algumas passagens da vida de Bartleby, que era escrivão, o mais estranho que conheci ou de que ouvi falar. Enquanto de outros copitas do foro, eu poderia escrever a vida completa, acerca de Bartleby tal não é possível fazer-se. Creio não haver material existente de modo a fazer-se a biografia integral e capaz deste homem. É uma perda irreparável para a literatura. Bartleby era um desses seres acerca dos quais nada se pode concluir a não sser a partir de fontes originais, que, no seu caso, são mínimas. O que os meus próprios olhos, atónitos, viram de Bartleby, isso é tudo quanto sei dele, excepto, na verdade, determinado rumor, que aparecerá em devido tempo.


Sim, há problemas no trecho, que não chega a comprometer o resultado final, mas que poderiam ser evitados. Por exemplo, há dois "fazer-se" pertinhos um do outro. No original em inglês não há nada parecido. Uma boa revisão resolveria o caso. Entretanto, o tradutor, Gil de Carvalho, não é nenhum iniciante e prova isso lá no final do parágrafo, com uma solução elegante para a última frase, chegando a melhorar o estilo rebuscado de Melville: determinado rumor, que aparecerá em devido tempo. Perfeito!

Sobre a tradução, o próprio Gil de Carvalho se pronuncia:

Traduzir Melville, usar em português esta linguagem por vezes carregada, cruzada de várias tradições, tão alusiva, é problemático. O melhor mesmo é lê-lo no original.

Sim, é melhor mesmo. Bartleby é um conto de Herman Melville, publicado em 1853 e narra a história do escrivão Bartleby, um sujeito extremamente metódico, que trabalha todos os dias da semana, sem descanso e faz seu trabalho com extrema eficiência. Entretanto, se nega a realizar qualquer outra tarefa que não seja a de copiar, com o bordão "I would prefer not to do". Até que um dia ele realmente prefere não fazer mais nada e se põe estático no meio do escritório, recusando-se a deixar o local.

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