29 de maio de 2006

Como os assuntos são Guimarães Rosa e um conhecido jornal do estado de São Paulo:

Do povoado do Ão, ou dos sítios perto, alguém precisava urgente de querer vir - segunda, quarta e sexta - por escutar a novela do rádio. Ouvia, aprendia-a, guardava na idéia e, retornado ao Ão, no dia seguinte, a repetia aos outros. Mais exato ainda era dizer a continuação ao Fraquilim Meimeio, contador, que floreava e encorpava os capítulos, quanto se quisesse: adiante quase cada pessoa saía recontando, a divulga daquelas estórias do rádio se espraiava, descia a outra aba da serra, ia à beira do rio, e, boca e boca, para o lado de lá do São Francisco se afundava, até em sertões.

Trecho de "Noites do Sertão".

25 de maio de 2006

Em junho, confiram na Revista E, do SESC, um conto inédito meu. A revista é distribuída gratuitamente em qualquer unidade do SESC no estado de São Paulo. Não estou certo se ela chega aos demais estados do país. É a segunda vez que a revista publica meus trabalhos, fato inédito por lá. Aproveito para acrescentar que acredito ser o único autor que publicou dois contos na revista Cult, em épocas diferentes...

20 de maio de 2006

- Que manuel-não-enxerga, Francolim! - e o Major Saulo parou, pensando, com um dedo, enérgico, rodante dentro do nariz; mas, sem mais, se iluminou: - São só quatro léguas: o João Manico, que é o mais leviano, pode ir nele. Há-há... Agora, Francolim, vá-s'embora, que eu já estou com muita preguiça de você.

Trecho do conto "O burrinho pedrês", de João Guimarães Rosa.

10 de maio de 2006

O que acontece na literatura não é muito diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda parte em legiões, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão. Eis a razão do número incalculável de livros ruins, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De fato, eles arrancam o tempo, dinheiro e atenção do público - coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e a seus nobres fins - e são escritos com a única intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, não são apenas inúteis, mas também positivamente prejudiciais. Nove décimos de toda a nossa literatura atual não possui outro objetivo senão o de extrair alguns táleres do bolso do público: para isso, autores, editores e recenseadores conjuram firmemente.

Trecho de Sobre o ofício do escritor, de Arthur Schopenhauer.

4 de maio de 2006

O desenhista Edgar Franco lançou recentemente outra revista de histórias em quadrinhos, em que continua a desenvolver seus arquétipos. Em seu universo, criaturas híbridas já são realidade. A consciência já pode ser armazenada em discos rígidos, as sensações, os prazeres, a moral, tudo foi alterado. O homem como é hoje não existe mais. Ele precisou evoluir, substituir seu corpo por outro mais eficiente. Tem início a era pós-humana. Quem tiver interesse no trabalho do Edgar, que defende doutorado em breve na USP sobre este assunto, envie mensagem para ele: oidicius@hotmail.com.