Em algum ponto escuro acima do Mediterrâneo, quando o avião libertava-se das amarras da terra, Jean lembrou-se de uma estrofe, ensinada há decadas pelo professor de religião da escola:
Primeiro a Pirâmide, que no Egito foi erguida;
Então os Jardins da Babilônia por Amytes construídos;
Terceiro, o Túmulo de Mausolo com afeição e culpa...
Não conseguia lembrar o resto. "Terceiro, o Túmulo de Mausolo com afeição e culpa..." Culpa, culpa... construído, era isso. "Em Éfeso erguido." O que fora construído em Éfeso - ou seria por Éfeso? "Quinto, o Colosso de Rodes, moldado em bronze, em honra ao sol" - lembrou de repente o verso completo, mas não foi muito adiante. Alguma coisa de Júpiter, era isso, e mais alguma coisa no Egito?
De volta a casa, foi à biblioteca e procurou as Sete Maravilhas do Mundo, mas não encontrou nenhuma das que constavam da poesia. Nem as pirâmides? Ou os jardins Suspensos da Babilônia? A enciclopédia dizia: o Coliseu de Roma, as Catacumbas de Alexandria, a Grande Muralha da China, Stonehenge, a Torre Inclinada de Pisa, a Torre de Porcelana de Nanquim, a Mesquita de Santa Sofia em Constantinopla.
Bem, talvez houvesse duas listas diferentes. Ou talvez precisassem atualizar a lista uma vez ou outra, à medida que novas maravilhas eram construídas e as outras desmoronavam. Talvez cada pessoa pudesse fazer a própria lista. Por que não? Para ela, as Catacumbas de Alexandria não pareciam grande coisa. Talvez nem existissem mais. Quanto à Torre de Porcelana de Nanquim, parecia extremamente improvável que qualquer coisa feita de porcelana tivesse sobrevivido. E em caso afirmativo, os soldados da Guarda Vermelha a teriam destruído.
Este trecho aí é porque há poucos dias o Cristo Redentor entrou na lista das maravilhas do mundo. O trecho foi retirado do livro "De frente para o Sol" (Staring at the sun), de Julian Barnes. Também não possuo o pedaço em inglês para inserir aqui. Tenho apenas "O papagaio de Flaubert" (Flaubert's Parrot).
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