9 de julho de 2007

Entretanto, quando ele está dentro de mim - como ontem à noite - acontece algo de muito estranho. Ele é muito melhor do que qualquer um da minha idade, vem com um sólida e majestosa ereção capaz de se prolongar pelo tempo que quisermos. Há ocasiões em que permanece dentro de mim por toda uma hora e, se eu colocar a mão sobre minha barriga, é possível sentir perfeitamente a ponta rombuda, como um estandarte erguido, atravessando-me a carne. Mas, ao mesmo tempo que ele me preenche toda, ao mesmo tempo que se poderia pensar que a última brecha dentro de mim acabara-se de tapar-se para sempre, enquanto estamos deitados, em silêncio, tenho a sensação de que fui eu quem o arrastou para dentro de minha carne, que sou eu quem o está prendendo ali, que sou eu quem o tem dominado, imobilizado. Se flexiono os músculos dentro de mim, sinto como se estivesse estrangulando alguém. Ele não fala; o sofrimento do prazer faz com que cerre os olhos. As pálpebras são mais delicadas sem os óculos. E até mesmo quando ele provoca o clímax para nós - passado o momento supremo, continuo a retê-lo como se o sentisse estrangulado: quente, grosso, morto, lá dentro.

Trecho do livro "O falecido mundo burguês" (The late bourgeois world, 1966), de Nadine Gordimer. Infelizmente desta vez não possuo o original para inserir também o parágrafo em inglês. Escolhi este pedaço aí justamente para fugir um pouco do estilo de Nadine, para evitar o assunto que a fez vencer o prêmio Nobel: o racismo na África do Sul. A tradução aí foi feita pelo Carlos Sussekind.

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