23 de julho de 2007

A minha rotina segue mais ou menos assim: durante a manhã eu fico escrevendo. Geralmente por duas horas, duas horas e meia. Durante este período eu consigo escrever cinco ou seis linhas, se for ficção e um texto inteiro, se for resenha. Porque conto eu prefiro ir revisando à medida que escrevo, para que a frase fique mais próxima possível do que eu quero. Então reescrevo trinta, cinqüenta, oitenta vezes. De modo que, quando termino uma narrativa eu faço uma revisão final, que consiste em outra leitura bem atenta e novas modificações. Mas procuro trabalhar assim para evitar descartar algum texto depois. Prefiro jogar fora a frase logo de cara. Logo depois do almoço eu leciono e fico fora de casa até o final da noite. Os intervalos entre as aulas eu os aproveito para ler, de maneira que antes de dormir já consegui terminar pelo menos um livro. Eu preciso deste volume de leitura por vários motivos: primeiro porque todo escritor deve ser um excelente leitor e depois porque eu sou resenhista de vários periódicos, o que me obriga a estar atualizado com os lançamentos editoriais no país e no mundo. Desde novembro de 2005 que trabalho em meu novo livro de contos, “Abismo poente”, cujas histórias têm como tema central a imigração libanesa para o estado de Minas Gerais. Vai um trecho aí do conto intitulado “I”:

quando a madrugada, abraçando o esplendor de um início de dia, decida partir. ainda é precária sua animosidade de bêbado e a minha vista por enquanto alcança somente o que não pode ver, e não vê o carvão fundido em magma, mais um ou dois êxtases de chama e depois as cinzas, nem o balé do rabo hemofílico de um gato vadio, nem o capim aspirando a espessa graxa da noite, nem a comida meio fermentada que você despejou de seu estômago aos pés de um vulto que dorme ou morre, tampouco as artérias dessa laranjeira sem forças para sumir daqui. o verde sonolento da mosca que suga os carcomas de buchos largados numa quina de grama, o rumor tardio da cerveja despejada no copo untado e solene daquele que já nem sabe por que bebe.

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