24 de agosto de 2007
tira o demônio de dentro
e fica vazio como um poço.
Corta o cabelo
e deixa crescer mais a barba
sem motivo nenhum.
Retira o avião do céu da tua boca
e deixa calar a nuvem de teu nascimento.
Corta o celulóide da tua pele
e inventa outro mundo para viver.
Cala o calafrio da tua cara
e permanece imóvel
dentro de teu paletó.
Afasta a sombra de teus dedos
e faz o tempo parar para sempre.
Morre todos os instantes
e caminha pela rua invisível de teu ser.
Tira de ti o ferimento do grito
e pára diante da fenda do olho
onde dormem os duendes.
Fica dentro de ti,
onde não existes mais
onde te feres
e te deixas,
onde não estás.
Cala as aves
nos alpendres da manhã
entre operários feridos
a cantar o hino nacional.
Reinventa o espelho do rosto
e costura a cicatriz mais funda
para redescobrir o sangue.
Não procures
esse tesouro dos homens,
mas o anel da infância
que se perdeu.
Força a busca de ti
onde não te encontras
nem te fazes nos labirintos
em que te perdes absoluto.
Destrói o sonho
que antes sonhavas
e que não tens mais
em teu armário.
Depois acorda
e mata as palavras
para que tudo volte ao normal.
Versos de Álvaro Alves de Faria, retirados do livro "À noite, os cavalos". Álvaro teve sua obra reunida em livro pela Editora Escrituras em 2003. Desde então publicou mais dois livros em Portugal.
20 de agosto de 2007
Existe um dinossauro gorducho que está manco de três pernas e prestes a ficar sem a quarta: é o nosso correio. Como é um assunto que está relacionado a livros, quero usar algumas linhas para falar sobre ele. Se você for até uma agência qualquer para postar sua preciosa carta, pode ter algumas surpresas. Se a sua missiva tiver mais de 500 gramas, então deixa de ser missiva para se tornar pacote, mesmo não sendo um pacote. Isto é, o atendente tentará convencê-lo, de todas as cansativas formas, que você deve enviar imediatamente um sedex. Ora, sedex é um serviço especializado e, portanto, caro. Ou seja: ou você mata a sua inocente mosca com uma bomba atômica ou então volta triste para casa. Após meia hora em que enche sua cabeça de baboseiras, o funcionário dos Correios diz que você tem uma alternativa: pode remeter sua correspondência via encomenda normal. MAS, para isso terá de colocar suas “quinhentas” gramas numa caixa, “que a gente tem sim, custa só cinco reais”. Enviar um livro pelo correio? Caro. Tanto faz você mandar uma obra literária ou oito latinhas de fezes, o preço é o mesmo. Ah, o nosso correio é muito eficiente, podem argumentar alguns. Tá. Por que é que existe carta registrada? A leitura só pode ser uma: se você mandar carta simples, os Correios não garantem sua entrega ao destinatário. Como assim? Estou pagando por um serviço que não garantem prestar? Alguém acha barato postar uma carta no Brasil? Compare os preços com os de outros países e depois venha conversar comigo. E sem falar que, ao chegar em uma agência, você com aquela pressa costumeira, tem de agüentar a moça do caixa lhe oferecer tele-sena, CDs e outros mil produtos. É nisso que dá um monopólio, preços abusivos e serviço de má qualidade. Só uma dica: tente reclamar com o Ombudsman e terá uma surpresa.
15 de agosto de 2007
Trecho do romance "Sem nome", do português Helder Macedo.
9 de agosto de 2007
6 de agosto de 2007
Trecho do conto "Todo o amor", do livro "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa.
4 de agosto de 2007
E cheios de vanglória, como quem
Ao peito humano deu a luz que tem
E a nossos corações os lumes vivos;
Já que os vejo, assentados na cadeira
Da prudência, falar com voz segura,
Dar-se em adoração à gente escura
E doutrinar d'ali à terra inteira;
Já que os vejo, co'a mão que ata e desata,
Entre os homens partir o mundo todo
E todo o céu - e dar a este o lodo,
E àquele o reino de safira e prata;
Dizer a uns - falai! e pôr na boca
Dos outros a mordaça da doutrina;
Dar a estes a espada de aço fina,
E, ao resto, pôr-lhe à cita a estriga e a roca;
Já que os vejo fazer a noite e o dia
Com o abrir e fechar dos olhos baços;
E pretender que o sol lhes segue os passos,
E em seus sermões aprende a harmonia;
(...)
Trecho de "Pater", de Antero de Quental.