6 de agosto de 2007

Engordaste e não queres que eu o descubra, por isso te precipitarás, mais tarde, para a casa de banho de onde sairás já de camisa de noite. Minha querida. Como se a ondulação contínua do meu desejo por ti pudesse crescer ou diminuir a metro. Quantos quilos de amor tens ainda para me dar, diz-me? Quantos quilómetros teremos ainda de andar para nos amarmos só com riso, sem lágrimas nem culpas, como dantes? Não foram as pregas do teu corpo o que nos afastou, o que nos empurrou para este limbo dos paraísos ocasionais. Tu dirás que foi o dinheiro. Eu direi que foi a tua incapacidade de entrega. Mas se dissermos isto acabaremos por gritar um com o outro, e depois cada um de nós dirá frases terríveis em que não acredita só para experimentar o seu poder de mágoa sobre o outro, e a rosa de sangue em que se transformou o nosso amor desmoronar-se-á em ferida absoluta.

Trecho do conto "Todo o amor", do livro "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa.

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