4 de agosto de 2007

Já que os vejo passar assim altivos
E cheios de vanglória, como quem
Ao peito humano deu a luz que tem
E a nossos corações os lumes vivos;

Já que os vejo, assentados na cadeira
Da prudência, falar com voz segura,
Dar-se em adoração à gente escura
E doutrinar d'ali à terra inteira;

Já que os vejo, co'a mão que ata e desata,
Entre os homens partir o mundo todo
E todo o céu - e dar a este o lodo,
E àquele o reino de safira e prata;

Dizer a uns - falai! e pôr na boca
Dos outros a mordaça da doutrina;
Dar a estes a espada de aço fina,
E, ao resto, pôr-lhe à cita a estriga e a roca;

Já que os vejo fazer a noite e o dia
Com o abrir e fechar dos olhos baços;
E pretender que o sol lhes segue os passos,
E em seus sermões aprende a harmonia;

(...)

Trecho de "Pater", de Antero de Quental.

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