12 de dezembro de 2005

Estar fora do eixo Rio-SP quer dizer estar distante da agitação cultural no Brasil. Significa estar longe da roda de bar formada pelo famoso editor, pelo escritor do momento, pelo cineasta badalado, pela atriz deslumbrante ou ir ao cinema ou à padaria e não encontrar nenhum famoso. Traduzindo: as chances de conseguir um padrinho acabam diminuindo drasticamente. Poucas editoras investirão em um desconhecido sem recomendações. Além disso, há o aspecto que a própria cultura propicia: o de estar perto das últimas tendências, dos últimos movimentos. As duas capitais sugerem (ou sugeriam) vanguarda. No meu caso, estar fora do eixo me garante uma enorme incerteza de publicação. Escrevo sabendo que não tenho nenhuma garantia de que meus textos serão editados algum dia. Por outro lado, acho benéfico estar fora do burburinho, criando solitariamente, pois não recebo tanta influência assim dos escritores contemporâneos, o que me deixa bastante confortável para dizer que tento criar uma literatura que está na contramão da violência e da falta de lirismo que imperam hoje em nossas letras. Mas a Internet facilita muito a minha vida e posso ter contato com grandes autores através do e-mail. Hoje não acho um problema tão sério assim viver fora do eixo. Encaro como imprescindível, isso sim, editar no eixo. É a garantia de que nossas obras terão uma distribuição razoável e também que serão editadas com as mais novas tecnologias e por profissionais competentes.

Esta opinião aí é minha e foi utilizada na matéria feita por Carlos Herculano Lopes sobre a literatura produzida (e/ou editada) fora do mítico eixo Rio-SP.

Um comentário:

Claudio Eugenio Luz disse...

Meu caro, suas palavras foram certeiras! Eu, mesmo vivendo dentro do eixo, estou mais para a margem. Na verdade, muito me agrada querer estar fora do eixo. Noto que a força renovadora da literatura encontra-se em outras paragens. Quando você diz "...o que me deixa bastante confortável para dizer que tento criar uma literatura que está na contramão da violência e da falta de lirismo que imperam hoje em nossas letras.", devo dizer, com toda sinceridade, que realmente outras realidades são possiveis.Pela internet, sabemos, um mundo pode ficar extremamente reduzido e, ao mesmo tempo, extremamente imenso e distante.
.
hábraços,claudio