Primeiro as palavras que fingimos existir e depois as estratégias e depois o pode e deve ser e assim. E depois aqueles consentimentos tímidos que se transformam em deliciosos absurdos límpidos libelos de incontensão. E depois usamos muitas palavras dizendo muito durante horas contando histórias e inventando muita coisa pra fazer amanhã e depois de amanhã. E depois mais desejo e os desdobramentos e aquele tipo de festa e aquele tipo de cansaço. E depois o tempo e os dedos do tempo as raízes do tempo a secura do tempo a umidade excessiva do tempo: os dias começam a se acumular e eu sei o que ela dirá e ela sabe o que eu direi. O que diremos daqui a pouco. O que será dito em cinco minutos. E de novo. E depois eu percebo que ela está olhando nada pela janela está deixando um cigarro aceso no cinzeiro se esquece de regar as violetas ouve o mesmo Liszt folheia uma revista de economia e responde uma coisa sem sentido porque não prestou atenção na minha pergunta: e então eu sei que uma outra figura fulge flameja vibra nos pensamentos dela na pele.
Trecho do conto "É", que está no novo (belo) livro de Luci Collin, "Vozes num divertimento", lançado recentemente pela Travessa dos Editores.
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