21 de março de 2008



The rabbit catcher

Ted Hughes

It was May. How had it started? What
Had bared our edges? What quirky twist
Of the moon's blade had set us, so early in the day,
Bleeding each other? What had I done? I had
Somehow misunderstood. Inaccessible In your dybbuk fury, babies
Hurled into the car, you drove. We surely
Had been intending a day's outing,
Somewhere on the coast, an exploration -
So you started driving.
What I remember
Is thinking: She'll do something crazy. And I ripped
The door open and jumped in beside you.
So we drove West. West. Cornish lanes
I remember, a simmering truce
As you stared, with iron in your face,
Into some remote thunderscape
Of some unworldly war. I simply
Trod accompaniment, carried babies,
Waited for you to come back to nature.
We tried to find the coast. You
Raged against our English private greed
Of fencing off all coastal approaches,
Hiding the sea from roads, from all inland.
You despised England's grubby edges when you got there.
That day belonged to the furies. I searched the map
To penetrate the farms and private kingdoms.
Finally a gateway. It was a fresh day,
Full May. Somewhere I'd bought food.

O caçador de coelhos

(Tradução de Paulo Henriques Britto)

Era maio. Como foi que começou? O que
Pôs a nu os nossos gumes? Que súbita virada
Da lâmina da lua nos levou nessa manhã, tão cedo,
A tirar sangue um do outro? O que fizera eu? Algum
Mal-entendido. Inacessível
Em sua fúria de dibuk, você jogou
No carro as crianças e partiu. Com certeza
Planejáramos algum passeio
A algum lugar na costa, uma viagem de família -
E assim você saiu com o carro.
Lembro
Pensar: Ela vai fazer uma loucura. À força
Abria porta e sentei-me ao seu lado.
Seguimos para o oeste. Oeste. Estradas estreitas
Da Cornualha, lembro, uma trégua tensa,
Você olhando fixamente, olhar de ferro,
Para alguma remota paisagem destruída
De alguma guerra imaginária. Eu simplesmente
A acompanhava, carregava crianças,
Esperava que você voltasse ao normal.
Tentamos encontrar a costa. Você
Deblaterava contra a ganância dos ingleses,
Mania de cercar todos os acessos à costa,
Escondendo o mar das estrelas, de todo o interior.
Chegando, execrou a imundície de nossas praias.
Aquele dia era das fúrias. Vasculhei o mapa,
Investigando fazendas e reinos privados.
Por fim, uma passagem. Era um dia limpo,
Em pleno maio. Eu comprara comida em algum lugar.


Estes são os versos iniciais da poesia "O caçador de coelhos", que está em "Cartas de aniversário". Este livro, Ted Hughes escreveu para sua primeira esposa, a poetisa Sylvia Plath, que se suicidou aos trinta anos, de uma forma que se tornou clássica: enfiando a cabeça no forno e ligando o gás. Hughes, com ou sem razão, não vem ao caso, foi perseguido pelas feministas da época. Depois que sua segunda esposa, Assia Wevill, se matou, a coisa pareceu piorar ainda mais. Nas palavras de Leonardo Fróes: "Ted Hughes, cujo destino amoroso foi ainda mais trágico que o de poetas ingleses de outras eras também sujeitos a grandes infortúnios, como o romântico Percy Bysshe Shelley ou o elizabetano Walter Ralegh, rompeu com 'Cartas de aniversário' um silêncio de 35 anos, para afinal admitir-nos à intimidade que aqui se descortina. Tinha sem dúvida essa necessidade que vemos - a de mostrar-se na maior inteireza para mostrar ao mesmo tempo que os amores humanos, por mais intensos que sejam, nem sempre dão muito certo. Diante de experiência tão forte e inusual, ouvir o depoente sem a tentação de julgá-lo é a postura mais sensata para quem se encontra hoje tão distante de tudo. Mas é impossível abstrair-se do enredo e percorrer este livro, 'apenas', como uma coleção de poemas. O romance que nele está contido nos envolve e arrasta a procurar verso a verso pelos fios da intriga."

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