Nas orelhas do livro "O jovem Törless", de Robert Musil, editado em 1982 pela Editora Nova Fronteira, com tradução de Lya Luft, podemos ler:
"O jovem Törless (Die Verwirrungen des Zöglings Törless - As perturbações do aluno Törless) é o primeiro romance de Robert Musil. Lançado em 1906, nele já estão presentes as audaciosas análises psicológicas que logo depois se tornariam características do expressionismo alemão. Trata-se de um estudo da adolescência no qul Musil coloca sua própria experiência como ex-aluno de um colégio militar austríaco, e onde a matéria e a forma quase se retraem em favor da penetração poética na 'alma' dos personagens.
Além disso, com três décadas de antecedência, a história do jovem Törless pode se lida - e sobretudo pensada - como uma antecipação do nazismo e suas motivações psicológicas baseadas na violentação do indivíduo pelo sistema."
Assim, seleciono um trecho do romance:
"Pensou nos antigos quadros que vira em museus, sem entendê-los bem. Esperava alguma coisa, como sempre esperara diante daquelas pinturas... Algo que jamais acontecia... O quê? Algo surpreendente, jamais visto; uma visão monstruosa, da qual não tinha a menor idéia; uma terrível sensualidade animal, que o pegasse pelas unhas e o dilacerasse, começando pelos olhos; uma experiência que... devesse se ligar... de uma forma ainda muito imprecisa... aos vestidos sujos das mulheres, com suas mãos grossas e a miséria dos seus quartinhos, com a lama dos quintais... Não, não; não é tão ruim como as palavras o fazem parecer; é algo mudo... um nó na garganta... um pensamento quase imperceptível, que só brota quando a todo custo se quer dizê-lo em palavras; mas então seria parecido apenas de longe, como algo imensamente aumentado, onde não somente se vê tudo mais nítido, mas também se percebem coisas que sequer existem... Ainda assim, aquilo o envergonhava."
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