25 de fevereiro de 2008
Trecho do romance "A caverna", de José Saramago.
24 de fevereiro de 2008
20 de fevereiro de 2008
As pessoas que se aglomeravam no porto foram cedendo à lassidão do cansaço, dispersando-se vagarosamente debaixo do sol de meio-dia entre debilmente chorosas e secretamente aliviadas da prolongada tensão da despedida, recobrando a consiência da inutilidade de continuarem acenando com os lenços no ar, sentindo-se elas próprias quais trapos moles e pendentes.
Parágrafos iniciais do romance "O muro de pedras", de Elisa Lispector, Prêmio José Lins do Rego, da Livraria José Olympio Editora, em 1963; Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, em 1946.
18 de fevereiro de 2008
Trecho do "Sermão do Santíssimo Sacramento", de Antonio Vieira. Há uma bela edição da Hedra, de 2003, em dois volumes, organizada pelo estudioso Alcir Pécora, com os principais sermões do padre.
15 de fevereiro de 2008
In Lebanon Phoenician was besieged by Greek, Christian was martyred by Muslin; and in the unfinished struggle for cultural dominance, Lebanese murder Lebanese ina a bloody contest for the nation's identity.
By 1400 B.C., the Phoenicians hold a monopoly on the cedar forests that covered the mountains behind the port of Byblos. Thus, emissaries of Egypt's great pharaohs trekked north to buy wood to embellish their grand public buildings, and oil and resin to preserve their dead. In time, every Egyptian death meant money in a Phoenician pocket.
9 de fevereiro de 2008
4 de fevereiro de 2008
John Robie, um ex-ladrão de jóias, mais conhecido como "Gato", pelo seu modo silencioso e rápido de escalar telhados, é acusado de uma nova série de assaltos e precisa fugir do restaurante do amigo Bertani (Charles Vanel), onde a polícia chega para caçá-lo. Bertani pede a Danielle (Brigitte Auber) que o ajude.
Bertani - Leve o Sr. Robie até o Beach Club. O que está esperando? Faça o que lhe pedi. Rápido!
Danielle - Ok, Sr. Gato, vamos!
Robie - Danielle, por favor, não me chame assim.
Danielle - Só faço um favor por dia.
A cena está no filme "Ladrão de casaca" (To catch a thief), de Hitchcock, de 1955.
3 de fevereiro de 2008
Diálogo de “Era uma vez no oeste”, de Sergio Leone: Harmonica (Charles Bronson) diz para Cheyenne (Jason Robarts). Eles estavam medindo forças:
- Então sabe contar até dois!
Cheyenne levanta a arma até seu rosto e responde:
- Até seis, se for preciso! E talvez mais rápido do que você.
(O roteiro é do Bernardo Bertolucci.)2 de fevereiro de 2008
Um ar de família
Felipe Fortuna
“A crítica contemporânea está realmente aparelhada de forma também contemporânea?” A pergunta, feita ao poeta Manoel Ricardo de Lima na revista Modo de Usar & Co., reflete uma incompreensão da função da crítica: afinal, esta é mesmo contemporânea quando surge no instante subseqüente ao da obra sobre a qual discorre. O exemplo da crítica de Mario Faustino é aqui lapidar: no momento exato em que analisou a obra de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Cassiano Ricardo, a maioria desses poetas estava viva e exercia notável influência no seu entorno literário. Famosamente, Mario Faustino assim julgou o poeta Drummond, valendo-se da terminologia encontrada em Ezra Pound: “Não escreve a sério sobre poesia, (...) nem oralmente nem por escrito. (...) É, quando muito, um master. Não é um inventor (...).” A leitura das cartas encaminhadas a Mário de Andrade, por exemplo, indica que o crítico não estava longe de uma avaliação muito precisa sobre o alheamento do poeta mineiro quanto à evolução da poesia brasileira em sua época.
Porém, uma nova pergunta feita pela revista indica maior confusão: “Você acha que a crítica ainda segue parâmetros que a poesia de hoje põe justamente em cheque [sic]?” Em língua portuguesa, deve-se escrever xeque no lugar daquele documento bancário – mas os editores já haviam prometido “um clima de intervenção”. O que importa, no entanto, é reconhecer que a evolução da poesia (e tudo o que supostamente vier a ser questionado nessa evolução) não deverá, necessariamente, alterar o conjunto de características da crítica literária. Na análise provocadora que Décio Pignatari fez do soneto “Áporo”, de Carlos Drummond de Andrade, jamais se reclama de que um modernista escreveu um soneto, forma de resto exorcizada vigorosamente também pelos concretistas. Na resposta à pergunta, Manoel Ricardo de Lima vai ao ponto: “Não é um problema da crítica, apenas, mas também do poema, ambos como política, política sempre como um nó do real (...).”
Como se comentou anteriormente, a multiplicação de revistas e antologias literárias não vem afirmando a presença de uma tendência dominante ou de jovens poetas “com voz forte”. Paradoxalmente, reforça-se a percepção quanto à dificuldade de se constituir vida literária no país, o que já tinha sido divulgado por Mario Faustino no mesmo artigo em que avaliou tão severamente os poetas em atividade: “Vida literária, emulação, reuniões sérias, leituras de poesia inédita, troca de experiências, debates, nada disso temos. Quando se conversa sobre um poema, o mais que sai, em geral, é o ‘tá bom’, o ‘muito ruim’, o ‘é uma beleza’. Em lugar disso tudo, há o fenômeno amizade, o mesmo que se verifica em nossa administração, em nossa política: meu amigo escreve bem, meu inimigo escreve mal.”
Um dos editores de Modo de Usar & Co., Fabiano Calixto publicou Sangüínea (Editora 34, 127p., R$26), que reúne seus poemas do período 2005-2007. Era de se esperar (pois os editores prometeram “a mesma responsabilidade imposta a si mesmos”) que a produção respondesse aos princípios constantes na apresentação da revista, ou seja, o surgimento de “possíveis novas formas”. Nada, contudo, distingue os poemas do livro da corrente poética que exibe influências da canção popular (não apenas brasileira), da citação ou da alusão literária entremeada aos versos, além das técnicas de composição trazidas pelo modernismo. Num poeta tão refratário ao pedantismo (tema obcecante em poemas, artigos e entrevistas), surpreende a quantidade de citações, em três línguas, que praticamente transforma alguns dos versos em palimpsestos.
Mais significativo é perceber o que Marcos Siscar denominou “a retórica das dedicatórias” nos poemas de Fabiano Calixto, que o crítico vai explicar sem perceber que denuncia a dimensão menor dessa poesia: “Com os fios da amizade poética, explicitando laços e afinidades, Sangüínea vai tecendo um espaço comum, um ar de família, na tentativa de estabelecer comunidade.” Na apresentação do mesmo livro, mal escapando à anotação típica do colunismo social, Carlito Azevedo observa que “Fabiano Calixto é um poeta que sabe se fazer querido pelos amigos. E alguns dos belos-amaros poemas deste livro praticam um procedimento que consiste em transformar numa espécie de ‘voz off’ as vozes de amigos (...)”.
Recolho uma estrofe de “A Falta que Ela me Faz”:
ontem falei ao telefone com Carlito
(estava calçando seu All-star verde
e ia dar uma volta à Lagoa com Marilinha).
Com desenvoltura, o livro é bem o modelo endogâmico que transforma os amigos e poetas em audiência receptiva e cúmplice de um contexto já conhecido; ainda mais marcante na série de poemas reunida em “Caixa de Saída”, onde o poeta envia e-mails para algumas amistosas admirações.
Também dedica “Soneto” a Dirceu Villa, o mesmo que escreveu a seguinte crítica sobre livro em que está citado também nos agradecimentos: “Fabiano Calixto é meu amigo, o que tornaria as coisas complicadas para mim, neste exato momento, se não fosse o ótimo poeta que é. (...) Foi um dos agraciados do PAC do ano passado, e a gente agradece ao PAC por esse tipo de coisa.” Quem é a gente – um coletivo de poetas? Aqui o elogio cordial ao amigo se estende ao Programa de Ação Cultural, mantido pelo Estado de São Paulo, que subvencionou Sangüínea. Assim se fecha um ciclo: o crítico fraterno fala bem do poeta e, no caminho, também da ajuda governamental. Mas o crítico não está sozinho: ele é “a gente”. E isso é Brasil.
Lírico e ardoroso, Fabiano Calixto pergunta em “E-Mail para Paul McCartney”:
as canções
de que são feitas?
da mesma erupção de
azuis de que são feitos
os oceanos? ou
do mesmo tecido que
veste vôos de borboletas? (...)
Mais adiante, continua a indagar:
da coleção de fuzilamentos
de mulheres
como Anna Akhmátova?
Aqui a emoção fica suspensa, infelizmente, pelo erro de informação biográfica, pois a poeta russa morreu de causas naturais numa casa de repouso, havendo realizado o milagre de sobreviver a Joseph Stálin. Contra os fatos não há argumentos – mas haverá a canção?
Matéria publicada no caderno Idéias & Livros, do Jornal do Brasil, hoje, dia 02 de fevereiro de 2008.