11 de julho de 2006

O Sr. Finkelstein estava caminhando para a trilha de cascalho quando apareceu um velho de barba encaracolada. Ele sabia que o velho era um dos que viviam de rezar para os visitantes das sepulturas. O Sr. Finkelstein não gostava daqueles tipos, do mesmo modo que não gostava de nada que fosse formal e hipócrita. O homem estava todo de preto e encontrou Finkelstein quando ele passou por uma sepultura para pegar o caminho de cascalho. Perguntou se não podia fazer uma prece pela pessoa que o Sr. Finkelstein estava visitando.
- Não, obrigado, não precisa - disse o Sr. Finkelstein.
Parecia que o velho estivera observando o Sr. Finkelstein, já que apontou para o túmulo do pai dele e disse: - O senhor não deixou nada.
O Sr. Finkelstein olhou para a lápide e lembrou que deveria ter colocado uma pedrinha na sepultura para mostrar que tinha passado ali e feito suas homenagens. Nas outras lápides havia pedras de todos os tamanhos, como cartões telefônicos que resistem até a chuvas. Virou-se para o velho e disse em ídiche: - Ser ele me viu, sabe que estive aqui. Se não me viu, também não vai ver uma pedra.


Trecho de Focus, de Arthur Miller. Tradução de Beatriz Horta.

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