9 de janeiro de 2008

Na subida do morro

O primeiro tiro, na primeira viela da subida do morro, acertou o elemento que corria desesperado, tudo indicando que tinha culpa no cartório.
O responsável pela operação policial explicou que nessa hora tem de atirar mesmo, até porque não dá tempo de perguntar se o suspeito é ou deixa de ser inocente.
Só depois, dias depois, no decorrer das investigações, descobriram que o elemento em questão e já enterrado não passava de um molecote de 14 anos que correu porque se borrava de medo da polícia.
O medo, vocês sabem, traz o desespero e faz a gente correr mesmo. E que o moleque, soube-se depois também, era doente mental e acordava gritando no meio da noite "são eles, mãe, são eles e vão nos matar". Também puxava de uma perna, o safadinho, o que aumentava mais ainda a aflição na hora da correria.
Mas aí, disse o sargento responsável pela operação, já era tarde.

Conto de Luís Pimentel, retirado do livro "Um cometa cravado em tua coxa". Pimentel é autor de mais de dezena de livros, entre infantis, contos, poesia. Foi editor do Jornal do Brasil, entre vários outros jornais do país.

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