1 de novembro de 2007

O caminho até o cemitério já era familiar. Junto à sepultura, o marido de Caroline descontrolou-se. Gustave olhava baixarem o caixão. De repente o ataúde ficou preso: a cova era estreita demais. Os coveiros seguraram-no e começaram a sacudi-lo; puxaram de um lado para o outro, sacudiram, deram pancadas com uma pá, usaram pés-de-cabra como alavanca; mas o caixão não se movia. Por fim um deles botou o pé bem em cima do ataúde, exatamente sobre o rosto de Caroline, e desceu-o à força para o túmulo.

Trecho do romance "O papagaio de Flaubert", de Julian Barnes, em tradução de Manoel Paulo Ferreira. O pedaço aí que escolhi fala sobre o enterro da irmã de Gustave Flaubert, Caroline. Flaubert, após a publicação de Madame Bovary em folhetim, sempre tentou mostrar ao mundo que não era autor de um único livro. E não foi mesmo, escreveu no mínimo outras duas obras-primas.

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