Nós, escritores, geralmente corrigimos as provas de nossas primeiras edições e, às vezes, nem isso. As seguintes, deixamos ao cuidado dos editores, os quais, talvez devido a seu conhecido e divertido jogo de passar a bola, as delegam ao impressor, o qual se apóia no revisor de provas, o qual, por ter a cabeça perturbada, chama em seu auxílio esse primo pobre que todos temos, o qual, como é bem mais folgado, as envia a um vizinho. O resultado é que, ao final, o texto não é reconhecido nem pelo próprio pai: neste caso, este seu servidor. Os livros freqüentemente melhoram com essa colaboração gratuita e tácita, mas os autores, raras vezes concordamos em reconhecê-los e costumamos preferir, talvez tomados pela soberba, aquilo que com melhor ou pior sorte havíamos escrito.
Trecho de um esclarecimento de Camilo José Cela, escrito para seu livro "A família de Pascual Duarte". Tradução de Janer Cristaldo, em segunda edição da Bertrand Brasil.
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