Cansado, e por falta de opção, fui para a entrada da delegacia onde deixei-me ficar observando a rua deserta. Nunca gostei de ver as portas corridas das lojas aos domingos; dão uma sensação ruim, de vazio no estômago. Na rua escura, vi uma poça amarela de luz em frente a um botequim e alguns homens bebiam cerveja. Passavam fiapos de nuvens sobre uma lua cautelosa. Não sei o que pensava, nem há quanto tempo, entretanto uma gargalhada indecente, vinda do interior da delegacia, me fez acordar de uma espécie de devaneio. Há mais de vinte horas fazia plantão. Algumas pessoas despediram-se de mim por estar parado na entrada da delegacia na hora que saíram.
Wilson Rossato, trecho do romance "O tolo precário", lançado em 2004 pela Editora Lamparina.
2 comentários:
Nomes, autores, escritores e todos de grosso calibre. Ou os cadernos culturais não estão dando conta do recado, ou estamos vivendo uma sindrome de cegueira.
hábraços
claudio
bom comeco
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