"lá fora a escuridão se manchava de arrogância e aurora. se tateasse a espessura da noite corroída, incompleta, suspeitando da incerteza desse ventre escuro a envolver-me, se algo em sua natureza de esconderijo falhasse primeiro e para sempre, seria a claridade. ou quem sabe o nada rasgando essa névoa de azeviche, inserindo uma fatia de sua peçonha para contaminar de vácuo o resto de um latejamento preguiçoso, mas que ainda é vida. se comprovasse essa inexistência mesclando ao veneno a ansiedade de minha mão, demonstrando com o vestígio de meus dedos a sensação oca de suas vísceras, seria a possibilidade do fim. ou a lâmpada, holofote guiado às suas mãos, seivas indóceis respondendo à cólera da dona, palmas entulhadas de vontades de provas, a visão guiando a fé."
(Trecho do conto "insônia", do livro "A cidade devolvida", a ser lançado dia 20 de novembro na Primavera dos Livros. O texto foi publicado na revista Cult e premiado em Barueri por Roberto Piva, Carlos Figueiredo e Claudio Willer - este último um grande incentivador de minha obra).
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