O que vou escrever aqui não é novidade. Eu carrego um caderno por onde vou - nele anoto palavras, pensamentos, reflexões, ideias. Tenho rabiscadas observações sobre quase todos os livros que li. Os que valem a pena, lógico. Quando se trata de um livro de versos, registro as palavras que mais aparecem. Nesta antologia do Bresciani, não tenho dúvidas, três palavras se repetem o tempo todo, mas nenhuma como a "pele". Assim é que eu imagino que o escritor nos dá uma dica de como ler sua obra.
Como o autor separa as cento e dez páginas da coletânea em quatro partes: "Dos gestos que transfiguram", "Dos gestos que iluminam", "Dos gestos que atordoam" e "Dos gestos que paralisam", pude ter uma ideia geral da construção que ele arquitetou.
Juntemos o gesto à pele, qual o resultado? Relacionamentos. Quando observamos, nos relacionamos. Como enxergar o que existe, como, como observadores, como interventores, agimos no mundo, modificando-o, interpretando-o? Talvez Bresciani tenha tentado não responder estas questões, mas refletir sobre elas. Abro agora o livro ao acaso, escolho um título de um poema, "Idioma" e lá está:
Nestes signos
a reinscrição do talvez
sopro que não morde
só se escreve no ar
os olhos quase podem ver
e, quem sabe, um dia desvelar
Assim segue o desejo, quase tangível. Um desejo amainado, vez ou outra por um gesto que captura uma esperança de compreensão, de descanso, como nos versos de "Cronologia":
nas mãos, entre os braços
no peito, na plenitude
dos pelos e da pele
à mira
da boca, das garras, dos dentes
Há, para mim, um recado claro: a compreensão está sempre um passo adiante, nossa tarefa é, então, persegui-la. Aí vai o poema "Opostos":
A extensa via obriga
a mãos inversas
Nem a luz é toda
brilha por prismas
Em cada foco
a distância se amplia
Nada nos une
ou decifra.
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