25 de outubro de 2011
As certezas e as palavras, Carlos Henrique Schroeder
Os dezenove contos deste livro de Schroeder tratam da única certeza que todos temos: a de estarmos sós. Assim, os relacionamentos não funcionam, nenhum tipo deles, pois o homem parece sempre em busca de algo que não poderá ter jamais. Esse sentimento de impotência é muito bem retratado na literatura de Schroeder, muito por causa de um lirismo às vezes impertinente, que surge quase por acaso em um parágrafo ou outro.
E há também a violência, o despudor. O maniqueísmo não tem mais lugar no mundo de hoje, “meus heróis morreram de overdose”, cantaria Cazuza. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, sentenciaria Augusto dos Anjos. Mas essa violência nunca é gratuita, é uma face da solidão e Schroeder sabe disso, essa Geração zero zero, à qual pertence, sabe disso.
Ao mesmo tempo, o leitor perceberá que não há explicação para nada. Há a tentativa de explicação – as palavras, que, se chegam até o homem, não o humanizam. A muleta das palavras, como diz o próprio autor em uma das epígrafes do livro. Uma muleta capenga, que não ajeita o passo de ninguém, apenas ampara, de uma maneira limitada, mas eficiente. A muleta necessária, mas não suficiente.
Há vários contos que me agradam muito, como “As certezas e as palavras”, em que uma das personagens é viciada na palavra “opróbio” e fica criando textos em cima dela, exercitando a sua própria solidão. Ou então “O tempo que resta”, sobre uma rodovia que tira vidas, um conto melancólico, em que nada parece acontecer, como se todo o texto fosse apenas a descrição de uma fome e de um medo, um medo comum a todos, um medo alimentado pela certeza da solidão e da morte. Gosto também do erotismo romântico do conto “Não diga noite”, em que a imagem se torna mais importante do que o sentimento, ou então que o sentimento só pode ser compreendido pela imagem. O que faz todo o sentido, pois atravessamos uma época em que tudo nos chega primeiramente pela visão. Outro dia comecei um texto me perguntando sobre a tarefa do escritor nos dias de hoje, em que, no câmbio cultural, precisamos de mil palavras para comprar uma imagem. Schroeder sabe disso, ele sabe que a palavra não muda mais nada, que a palavra está em desuso, que a palavra não chega a mais ninguém, porque os homens estão caminhando para seu destino de máquinas (novamente parafraseio uma epigrafe de “A certeza e as palavras”).
E os contos têm muitas citações, muitas homenagens, mas elas nunca parecem excessivas, pois fazem parte do contexto, estão ali para ajudar o roteiro. Além disso, sabemos que o leitor não está acostumado a ler Paul Auster, Maurice Blanchot, Alan Pauls ou Dylan Thomas, o que significa que as passagens escolhidas por Carlos Henrique Schroeder têm a função de apresentar estes autores, de fazer com que o leitor se apaixone por estes grandes pensadores, que o leitor Para contrabalançar, há muitas menções pops, principalmente pinçadas do rock. Legião Urbana, Joy Division e assim por diante, o que nos deixa, nós que estamos chegando aos quarenta, mais à vontade. Ouvir Joy Division hoje ainda é possível. Gravar Joy Division e The National num mesmo pen drive é possível.
Eu recomendo este livro porque é bom, é fruto de um autor maduro e quem ler os contos que foram reunidos nesta obra pode ter a certeza que passará bons momentos em companhia de uma literatura forte, que não deixa e nem quer deixar nada a dever a nada ou a ninguém.
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