Li sobre o Dave Eggers faz pouco tempo e resolvi ver se o cara era tão bom quanto o resenhista vendia que fosse. O americano escreve muito bem sim, mas eu esperava mais. Um pouco do meu desapontamento eu credito à tradução. O título do livro: em inglês “How we are hungry”. Em português, ficou: “A fome de todos nós”. Aliás, gostei mais do título em nossa língua do que do original. Mas acho que toda a inspiração do tradutor acabou aí. Eggers dá uma importância tremenda aos títulos, é como se eles fizessem parte da história ou mais ainda, é como se fossem a chave para decifrar o mistério das narrativas. The only meaning of the oil-wet water ficou O único significado da água suja de óleo. Up the mountain coming down slowly acabou Descendo vagarosamente a montanha. Notes for a story about a man who would not die alone se tornou Notas à história de um homem que não morrerá sozinho. Aí me deu vontade de ler o Dave em inglês, mas ainda não consegui encontrar um livro dele por aqui e com o dólar nesses patamares, vou esperar mais um pouco para importar alguma obra do sujeito. Então que eu não fiquei satisfeito não, saí da leitura (há alguns dias, admito) com aquela velha sensação de ter perdido algo. Alguns trechos me pareceram bem forçados, quando o autor dá voz a animais e objetos, sem que no final isso tenha qualquer relação com a história. Pareceu-me que o Eggers queria mesmo só transgredir. É um bom escritor, se me permitem. Talvez eu até recomende essa obra dele algum dia a um amigo.
Vou transcrever a orelha desta minha edição (Rocco, 2007):
A fome de todos nós é uma coletânea que mescla histórias inéditas com outras anteriormente publicadas em algumas das mais aclamadas revistas literárias americanas.
Misturando narrativas lineares com tramas narradas por diversas vozes distintas, Dave Eggers consegue relatar, com maestria, desde a saga de um cão que corre para alcançar o paraíso em “Após ser jogado no rio e antes de me afogar” até uma meditação amargamente cômica sobre a amizade e o suicídio em “Subindo pela janela, fingindo dançar”. Os contos reunidos em A fome de todos nós assombram o leitor com prazeres inesperados e divagações sobre assuntos incomuns que, em seu cerne, revelam muito sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca.
Através de toques delicados e explosões de humor rasgado, o combustível desta coletânea são os tempos atribulados no qual foi escrita. A urgência e o experimentalismo que marcam a carreira de Dave Eggers desde seu primeiro livro estão, aqui, mais desenvolvidos que nunca, elevados a um novo nível de precisão e beleza, injetando vida nova a formas literárias tradicionais.
Mais do que um retrato cômico e ferino deste início de milênio, A fome de todos nós é o registro da maturidade de um dos maiores autores americanos de nossos dias.
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