Por certo, tampouco é coincidência que os primeiros campos soviéticos tenham sido estabelecidos imediatamente após a sangrenta, violenta e caótica Revolução Russa. No decorrer da Revolução, do terror imposto depois dela e da subseqüente Guerra Civil, pareceu a muitos na Rússia que a própria civilização fora destruída de modo permanente. "Sentenças de morte eram impostas arbitrariamente", escreveu o historiador Richard Pipes, "pessoas eram fuziladas sem motivo ou soltas de modo igualmente imprevisível." A partir de 1917, todo o conjunto de valores de uma sociedade ficou de pernas para o ar: a riqueza e a experiência acumuladas durante uma vida inteira se tornavam uma desvantagem, o roubo era glamorizado como "nacionalização", o assassínio virava parte aceite da luta em prol da ditadura do proletariado. O aprisionamento inicial de milhares de pessoas por Lenin, simplesmente porque tinham riqueza ou títulos aristocráticos, nem chegava a parecer estranho ou despropositado.
Trecho de Gulag, de Anne Applebaum.
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