28 de novembro de 2007

Hoje recebi uma notícia que me deixou bem alegre: meu conto "sonâmbulos", do livro inédito "Abismo poente", foi o vencedor do 17o Concurso Nacional de Contos Luiz Vilela.

25 de novembro de 2007

Não é segredo que prefiro os clássicos. E nesta palavra entendam também que isso é literatura de oitenta anos, no mínimo. Mas eu também leio contemporâneos, vocês perceberam pelos posts anteriores. Vou falar de um sujeito bem interessante: Ignacio Padilla. O escritor mexicano é dono de uma narrativa poderosa, em que se destacam histórias criativas e frases muitíssimo bem construídas, cheias de ironia e força poética.

22 de novembro de 2007

Boitempo

Entardece na roça
de modo diferente.
A sombra vem nos cascos,
no mugido da vaca
separada da cria.
O gado é que anoitece
e na luz que a vidraça
da casa fazendeira
derrama no curral
surge multiplicada
sua estátua de sal,
escultura da noite.
Os chifres delimitam
o sono privativo
de cada rês e tecem
de curva em curva a ilha
do sono universal.
No gado é que dormimos
e nele que acordamos.
Amanhece na roça
de modo diferente.
A luz chega no leite,
morno esguicho das tetas,
e o dia é um pasto azul
que o gado reconquista.

Carlos Drummond de Andrade.

8 de novembro de 2007

Vocês conhecem as agendas do PSTU? Calma, calma, este recado não tem absolutamente nenhuma conotação política. Eu compro essas agendas há uns 7 ou 8 anos, porque elas são bonitas, bem-feitas. As páginas são ilustradas com fotos e quadros famosos. Também muita poesia, trechos de músicas, de obras literárias. Ano passado eu comprei a agenda, como todos os anos anteriores, de um militante do partido. Para minha surpresa, ela trazia umas três ou quatro poesias minhas! Então eu consegui entrar em contato com os organizadores da agenda e este ano meus versos ilustram muitas outras páginas. Repito: vale a pena ter uma. Não sou militante do PSTU e de nenhum outro partido. Repartem os dias comigo outros poetas, como Carlos Drummond, Manoel de Barros, Lau Siqueira, Zeh Gustavo e por aí vai a lista.

1 de novembro de 2007

O caminho até o cemitério já era familiar. Junto à sepultura, o marido de Caroline descontrolou-se. Gustave olhava baixarem o caixão. De repente o ataúde ficou preso: a cova era estreita demais. Os coveiros seguraram-no e começaram a sacudi-lo; puxaram de um lado para o outro, sacudiram, deram pancadas com uma pá, usaram pés-de-cabra como alavanca; mas o caixão não se movia. Por fim um deles botou o pé bem em cima do ataúde, exatamente sobre o rosto de Caroline, e desceu-o à força para o túmulo.

Trecho do romance "O papagaio de Flaubert", de Julian Barnes, em tradução de Manoel Paulo Ferreira. O pedaço aí que escolhi fala sobre o enterro da irmã de Gustave Flaubert, Caroline. Flaubert, após a publicação de Madame Bovary em folhetim, sempre tentou mostrar ao mundo que não era autor de um único livro. E não foi mesmo, escreveu no mínimo outras duas obras-primas.