10 de maio de 2006

O que acontece na literatura não é muito diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda parte em legiões, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão. Eis a razão do número incalculável de livros ruins, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De fato, eles arrancam o tempo, dinheiro e atenção do público - coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e a seus nobres fins - e são escritos com a única intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, não são apenas inúteis, mas também positivamente prejudiciais. Nove décimos de toda a nossa literatura atual não possui outro objetivo senão o de extrair alguns táleres do bolso do público: para isso, autores, editores e recenseadores conjuram firmemente.

Trecho de Sobre o ofício do escritor, de Arthur Schopenhauer.

3 comentários:

whisner disse...

A tradução de Franco Volpi foi revisada pela Karina Jannini. O trecho está fraco ou o livro? Engraçado, não consegui encontrar nenhum erro grave de revisão. Vc poderia me apontar algum? Bjs...

Claudio Eugenio Luz disse...

Meu caro, quando estudava filosofia, li "O Mundo como Vontade e Representação", livro, aliás, deveras impactante na minha formação. O pensador, embora tenha escrito no século 18, em outro mundo, penso que aproxima-se deste mundo e desta época: idêntico como muitos artigos sobre o conteúdo da televisão, jornais e livros. Não perdeu sua aura.

hábraços

whisner disse...

é, renata, o único erro que eu havia percebido era "nove décimos possui", mas resolvi manter como no original. quanto às demais correções, acho justas, exceto a dos travessões. creio que a vírgula colocada ali faça o mesmo papel...
aguardo seu email.